Caríssimo Presidente Alexander Lukashenko, excelentíssimo estimadíssimo reverendíssimo Generalíssimo amigo,

É com grande pesar que venho por este meio informar Vossa Excelência de que Vossa Excelência corre o seríssimo risco de sofrer severas retaliações depois de ter cometido o despautério de desviar um avião que circulava entre duas cidades comunitárias. Tamanha estultícia, meu caro amigo. Estará porventura arrependido? Após o senhor ter escolhido brincar com a Ryanair, uma companhia que representa tudo o que a União Europeia é (facilidade de viajar entre Estados e a sensação permanente de desconforto), não tenha qualquer tipo de dúvida de que a União Europeia libertará uma inelutável fúria sobre o seu regime.

Faça uma pausa, caro Lukashenko. Sei que está assustado. “Que métodos desumanos é que a impiedosa União Europeia vai usar para se vingar de mim?”, pensará o senhor. “Como é que os implacáveis tecnocratas de Bruxelas castigarão meu descomedimento e presunção?” Ah, pois é, amigo Luka. Agora é tarde. Agora é altura de encarar as consequências, respirar fundo, morder um braço e aguentar — imagine — duas ou três sanguinolentas conferências de imprensa em que ralham consigo. Sim, sim. Cá se fazem cá se pagam. Veja lá se se consegue levantar depois desta, ó Alex! Aposto que já está a chorar só de pensar na hipótese de ouvir palavras como “repúdio”, “inacetável”, “intolerável”, “escandaloso”, “abominável” ou mesmo a lancinante expressão “terrorismo de Estado”.

Mas não se ficará por aqui, respeitável figura de Estado. Não, não. Se o senhor não se põe a pau, então aí é que fica o caldo entornado. Se o bombardeamento de palavras redigidas por assessores de imprensa não surtir efeito, a União Europeia não terá hipótese senão a de — não querendo assustá-lo em demasia — encetar uma “resposta musculada”. Mas atenção, não é uma resposta musculada à antiga, daquelas que fazem uso dos músculos e tudo. Não, isso é para potências frágeis e inseguras. Nós aqui temos outros modus operandi. Se o senhor não se enxerga, leva com sanções em cima que até anda de lado. Estou-lhe a dizer! Sancionamos, sim, se for preciso. Somos até capazes de autuá-lo ou mesmo admoestá-lo com um cartão amarelo. Cuidadinho, ok?

E se nem isso derrubar a sua intransigência, o senhor nem imagina a pujança da nossa estocada final. O senhor tem noção até onde pode ir a nossa perversidade? Julgo que não. Se não ceder, nós recomendamos às companhias aéreas que operam nos países membros que não sobrevoem o seu espaço aéreo! Até apitas, ó Luka! Têm de dar a volta e tudo! Não se preocupe que a gente tem dinheiro para a gasolina. Só para o senhor Presidente não se armar em esperto. E, se o senhor se lembrar de fazer mais uma destas, até somos capazes de perder a cabeça e redigir uma “posição comum”. Se a Hungria alinhar, claro. Desta vez, não te ficas a rir, ó Alexandre.

Porque o seu tempo é precioso.

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