Num mundo cada vez mais complexo e desafiador, a saúde mental tornou-se um tópico crucial de discussão. Por isso, é essencial reconhecer que a saúde mental é tão importante quanto a saúde física, e que todos merecem o acesso a serviços e apoio adequados que garantam o seu bem-estar emocional, para além do físico, pois um não existe sem o outro.
Em Portugal, o Festival Mental é um evento anual – mas não só! - que visa promover a saúde mental através da cultura e das artes. O Mental, que tem vindo teimosamente a crescer sustentadamente ao longo dos anos,está a preparar a sua 8.ª edição que se deseja ainda mais completa, diversificada e que chegue a ainda mais pessoas.
Em 2023, o festival contou com mais de 20 atividades, incluindo teatro, dança, música, debates (M-Debate e M-Talks) e o já famoso M-Cinema, a mostra internacional de curtas e médias metragens. Também pela primeira vez, as escolas aderiram em massa ao Mental, e este abriu-se à comunhão com a natureza, com o Mental Natura e atividades para miúdos e graúdos ao ar livre.
E para quem não pode assistir aos eventos que ocorrem em Lisboa, a equipa desdobra-se na produção do Mental Itinerante, levando grande parte da programação às cidades e vilas que demonstrem interesse. Felizmente, observa-se que, a cada ano, mais pedidos são feitos o que se conclui que a oferta de atividades culturais e artísticas que promovam a saúde mental de maneira inovadora e acessível, é a melhor forma de chegar às pessoas. A cultura tem sido a plataforma escolhida e continua. Cultura também como direito universal, juntamente com a Educação, eleva as comunidades e os cidadãos à plataforma do conhecimento, do ouvir e despertar emoções, do dar e receber tão importantes para a estabilidade e saúde.
Mas nem tudo são rosas.
Infelizmente, e apesar de todos os discursos e anúncios que enfatizam a importância da saúde mental, o investimento real na sua promoção e prevenção ainda é praticamente nulo. As quantias anunciadas são, muitas vezes, diluídas e não alcançam os que mais precisam. E as questões surgem ano após ano: o que está a acontecer? Para onde vai essa soma? Porque é que este investimento essencial é negligenciado? Porque não investir na prevenção que irá prevenir gastos muito mais dispendiosos na doença?
É importante que as pessoas tenham acesso à informação e aos recursos que lhes permitam cuidar da sua saúde mental. E, naturalmente, é também importante que a sociedade seja mais tolerante e compreensiva para com as pessoas que sofrem de problemas de saúde mental. Este objectivo só se atinge com a discussão de temas que ainda são tabu de forma séria, ciêntífica , credível e esclarecedora, com a ajuda da sociedade civil que tem tantos e tão bons recursos para ajudar esta matéria. Há tantos recursos para fazer isto tudo tudo de forma acesível, interessante, divertida, bem programada. O céu é o limite!
Se houvesse mais investimento e uma maior colaboração entre parceiros na promoção, prevenção e combate à iliteracia, poderíamos desempenhar um papel ainda mais significativo neste esforço. A iliteracia não deveria ser uma realidade numa sociedade que fala cada vez mais sobre saúde mental. Mas é fundamental esclarecer que falar mais não significa necessariamente falar melhor. É crucial questionar a fonte da informação e considerar as agendas dos vários grupos económicos detentores de canais de informação. Os fatos científicos desempenham um papel vital neste diálogo, e é importante abordar a cultura, nas suas mais diversas formas, como uma força catalisadora no tratamento de crises e problemas de saúde mental.
Além da literacia, é imperativo falar sobre educação em saúde mental. Porque ainda usamos o termo "literacia" quando poderíamos escolher "educação em saúde mental" que é mais simples e esclarecedora?
A saúde mental é um direito humano que ainda não é uma realidade para todos. É preciso fazer mais para garantir que todos tenham acesso aos recursos e ao apoio de que precisam para viver uma vida saudável.Todos podemos ter problemas de saúde mental e não existem causas únicas, pois cada caso é um caso, independentemente da idade, origem ou condição social. E por ser direito humano implica também ter acessos fáceis, estruturados, de próximidade e acessíveis a todas as bolsas. Se pensarmos bem, todo o sistema em vez de “gastar” recursos financeiros estaria de fato a investir na poupança. Investir na saúde e não na doença.
Por conseguinte, é importante procurar ajuda quando nos sentimos menos bem e não podemos ter medo, ou vergonha, em fazê-lo. Muito pelo contrário! A verdade é que com prevenção e educação, já saberíamos disto há muito tempo.
Afinal, como se está a sentir?
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