Há pouco tempo - uns meses, mas ainda este ano - houve uma arma que se tornou operacional: enxames de drones coordenados por Inteligência Artificial percorreram sozinhos 500 quilómetros dentro da Rússia para atingir alvos pré-determinados.

Há cerca de dois anos, houve outra "inovação": pequenos barcos sem tripulação, carregados de explosivos, atingiram navios de grande porte e instalações junto à água. Aconteceu no mar de Azov, um quase-lago entre a Ucrânia e a Rússia.

Anteriormente, a novidade foram os drones telecomandados que caiam a pique em cima de veículos blindados. Na Ucrânia e também na faixa de Gaza.

Fora estes desenvolvimentos recentíssimos, já é possível mandar bombas hipersónicas (isto é, mais rápidas que a velocidade do som, 340 metros por segundo) e bombas planadoras (que abrem asas depois de lançadas) que voam a baixa altitude, portanto indetetáveis pelos radares, e equipadas para evitar as variações de terreno. Também na Ucrânia.

Em Israel, mísseis e bombas lançadas à distancia de centenas de quilómetros (pelo Hamas, Houtis e Irão) são destruídos por um sistema chamado “cúpula de ferro” que os deteta e lança contra-mísseis. Numa vertente menos mortal, milhares de satélites estacionários permitem ouvir e descodificar todas as ligações eletrónicas, seja de sistemas militares, seja de simples telemóveis, que localizam os utilizadores (na prática algo que permite que um soldado telefone para casa para saber da família e a seguir lhe caia uma bomba em cima)

Continuando a recuar num espaço de poucos anos, criámos os aviões invisíveis ao radar, os sensores de ondas magnéticas precisas que detetam os aviões invisíveis ao radar, as bombas termobáricas (espalham químicos em vez de estilhaços metálicos), as bombas de vácuo (absorvem o oxigénio na área em volta), as bombas perfurantes (penetram no solo e destroem bunkers a 60 metros de profundidade), e as “cluster” (ao atingir o alvo dispersam-se em centenas de pequenas granadas).

Os bombardeamentos químicos, com produtos que podem intoxicar uma aldeia inteira, foram proibidos, (como em geral todos os explosivos com gás), desde a I Guerra Mundial), mas evidentemente que continuam a ser usados. Sabemos que Sadam Hussein e Bashar al-Assad os usaram, mas não sabemos de muitos outros que certamente o fizeram. O napalm espalha um produto à base de fósforo que se cola a tudo e não pode ser apagado.

Os lança-chamas portáteis queimam tudo até à distância de 100 metros.

As bombas atómicas, “táticas” (até uma kilo-tonelada) e as outras incineram tudo em áreas que derretem milhões de pessoas. Só foram usadas duas vezes, mas a ameaça paira sobre todos nós desde 1945.

Quanto à inventividade para matar podemos parar em 1945, se não isto torna-se cansativo. Podíamos talvez incluir o submarino, usado pela primeira vez na Guerra da Independência dos Estados Unidos, em 1776, tornado depois prático e eficiente pelos alemães a partir da I Guerra Mundial. Ou recuar ao canhão com culatra (que não precisa de ser carregado pela boca) inventado por volta de 1850. Ou ainda o balão com bombas (o mais famoso, o Zeppelin, é de 1893), os aviões caças e bombardeiros, as minas e armadilhas, os morteiros … A inventividade assassina nunca deixa de surpreender.

Isto para não falar das outras formas de violência que sempre decorreram e estão a acontecer neste preciso minuto, aos milhões: morte pela fome, violações, torturas muito criativas, violência indiscriminada contra populações desarmadas (estou a pensar no Darfur, no Sudão, em Myanmar…)

Mas, regressemos à última "inovação" que teve lugar esta semana, a operação dos serviços secretos israelitas no Líbano e, em geral, três das chamadas “forever wars” que estão a decorrer: Israel/Hamas, Ucrânia/Rússia e SAEL

A guerra dos judeus contra os muçulmanos pode dizer-se que existe desde que surgiram os muçulmanos (oficialmente na Hegira, em 622) uma vez que os judeus são muito mais antigos. Passando por cima das peripécias, movimentações, razões e não razões de muitos séculos, chegamos a 2024 da Era Cristã com uma certeza inexorável: não tem fim à vista, não vai acabar nunca.

Neste momento o quadro é sobejamente conhecido - Israel tem um governo fascista/racista que combate os governos fascistas/racistas do Irão, da Palestina, do Egito e de mais meia dúzia de radicais, países ou grupos. Mesmo que um ou mais desses governos mudem para posições mais moderadas - o que não se está a ver - a situação no Médio Oriente vai permanecer sempre belicosa e indefinida. Podem tecer-se considerações morais sobre muitos dos “operadores” - porque é que a multi-milionária Arábia Saudita não ajuda os palestinos, por exemplo, ou porque é que a Europa continua a dar fortunas ao Hamas para aliviar a sua culpa nas origens do conflito (Sykes-Picot) ou porque é que os judeus norte-americanos, condenando Netanayhu, continuam a financiá-lo. Contudo, sejam qual for as considerações, o facto é que hoje, agora, continuam a morrer crianças e mulheres numa guerra de homens enfurecidos que se prolongará por séculos.

Cabe aqui um parêntesis, talvez a despropósito, sobre a maquiavélica eficiência dos israelitas: esta operação dos pagers e telemóveis explosivos é genial. Nem sequer se consegue perceber como é que os dispositivos chegaram à mão das vítimas. A marca é de Taiwan, mas a empresa deu uma licença de fabrico a outra empresa na Hungria. Os explosivos só podem ter sido incluídos na fábrica húngara que, evidentemente, vai negar.

Já em 2021 os israelitas tinham feito uma operação espetacular, ao assinar um cientista iraniano, Mohsen Fakhrizade. Foi morto a tiro, num região remota do Irão, por uma metralhadora sniper controlada remotamente em Tel-Aviv e montada numa viatura que se auto-destruiu depois do atentado. Nem na “Missão Impossível”!

Quanto ao conflito entre a Ucrânia e Moscovo, também pode se pode dizer que existe desde que os vikings fundaram Kiev, em 482, ou, pelo menos, desde Catarina a Grande (século XVIII); de facto, entre os ksar, Estaline e Putin, mudaram apenas as circunstâncias. No presente conflito, de que temos notícias diariamente, impressiona como os ucranianos são resilientes e engenhosos (foram eles que inventaram a guerra de drones, por exemplo) e como os russos continuam a desprezar completamente a vida dos homens - mesmo os deles - e, em última análise, como são muito menos eficientes do que se pensava que eram no período 1945-1989. Contudo, estas considerações à parte, também é evidente que estamos perante uma “forever war”. Haverá uma trégua a certa altura (em que termos, logo se verá), mas nunca haverá paz - jamais.

O mesmo podemos dizer das situações nos vários países do SAEL, aquela faixa que fica entre o Norte de África e a África “negra”. Mudam os líderes, mudam os regimes, alteram-se as influências (dantes era a França, agora é a Rússia), varie o que variar, aqueles humanos continuam basicamente na Idade da Pedra, só que armados com rockets.

Para tudo isto, e para o mais que está para vir, nós, portugueses, inventamos a expressão mais apropriada: “É o que temos”.