Estas vão ser as primeiras eleições legislativas, desde que uma partícula, dez mil vezes menor que a espessura de um fio de cabelo, impactou todas as esferas da sociedade. A pandemia levou os hospitais a ultrapassar linhas vermelhas e obrigou-nos ao confinamento. Foi criada uma vacina em tempo recorde para fazer face à mortalidade gritante.

As vacinas foram inventadas em 1796, sendo a esperança média de vida nessa época de 35 a 40 anos. Aliado à melhoria dos cuidados de higiene da população, a vacinação foi a principal arma para o aumento da esperança média de vida nos últimos 200 anos, situando-se hoje nos 81 anos em Portugal.

No entanto, após 5,6 milhões de mortes e 10 mil milhões de vacinas administradas em todo o mundo, ainda existem pessoas, felizmente uma minoria, que negam a existência da COVID-19 e questionam os benefícios das vacinas. A capacidade do ser humano negar o óbvio é tão surreal como esta pandemia. E qual é a faixa etária onde prevalece o negacionismo? Na população menos instruída? Não, na classe média qualificada. Este facto explica-se através de outra grande epidemia que surgiu com o desenvolvimento da Internet: a desinformação.

A classe instruída, desde o ex-magistrado Rui Fonseca e Castro ao número 1 mundial do ténis Novak Djokovic, pode facilmente ir ao Dr. Google e tirar um mestrado em virologia e reações adversas das vacinas em 15 minutos. E a vacina para a desinformação é a literacia, cujas fontes devem ser credíveis.

Inegável, pelo contrário, foi a importância de um Estado Social, quando empresas suspenderam funções, os serviços de restauração e hotelaria fecharam, as grandes superfícies comerciais tiveram uma quebra brutal de rendimentos e o desemprego aumentou. Mas o Estado não deixou que ninguém ficasse para trás: centenas de empresas salvas da insolvência, milhares de empregos mantidos, milhões de famílias amparadas. Quando a economia abrandou, o Estado avançou. Quando o privado não recebeu doentes COVID, o SNS abraçou-os.

É esta força e solidariedade que caracterizam o nosso Estado democrático, que nos permitiu ultrapassar juntos, enquanto nação, esta pandemia que tanto nos feriu, mas que nunca nos derrubou. Que nos permitiu estar na vanguarda da vacinação, sendo o nosso SNS um exemplo de eficiência no combate à pandemia a nível internacional. Os pilares da nossa democracia estão tão bem cimentados que permitem dar voz a discursos populistas de incitamento ao ódio, que desafiam a nossa Constituição, cujo único propósito é ganhar votos a uma minoria descontente. Mas nada nos ameaça, pois estamos sob a proteção de um Estado de Direito. Um Estado que dá oportunidades a todos os que querem cumprir o seu sonho, independentemente da carteira ou estatuto social. Que acredita que a criação de riqueza passa pela mitigação das desigualdades sociais, não pelo aumento do fosso social. Um Estado que acredita no aumento dos apoios sociais para a qualificação progressiva da população portuguesa, num país em que o problema não é existirem muitos licenciados, mas poucos empregos para a geração mais qualificada de sempre.

No pico da pandemia, todos aplaudimos o nosso serviço público de saúde e a resiliência dos nossos governantes em tempos tão difíceis. Agora que tudo está mais calmo e a voltar vagarosamente à normalidade, tendemo-nos a esquecer.

A gripe espanhola durou de 1918 a 1920 e infetou um quarto da população mundial. Em 1921 o senador americano republicano Warren G. Harding foi eleito, com uma maioria nunca antes vista, presidente dos EUA, derrotando Franklin Roosevelt e prometendo o regresso à normalidade, num tipo de discurso que se traduzia no esquecimento das consequências da pandemia. Esta estratégia de ignorar o óbvio não teve muito sucesso, tendo em conta que o governo caiu passados dois anos. O facto de existirem monumentos de homenagem aos 20 milhões de mortos da primeira guerra mundial, mas não aos 50 milhões da gripe espanhola não é coincidência.

Sempre gostei de estudar História, pois é através da aprendizagem dos erros do passado que os podemos evitar no futuro. Mas se há algo que sabemos da História é que raramente aprendemos com o passado.
Portanto, é tempo de não repetir os erros de outrora e não esquecermos as lições da pandemia. E a melhor ilação que tirei nestes últimos dois anos é que um Estado democrático é a maior garantia da Liberdade.

Exerça a sua liberdade de voto no próximo dia 30 com consciência e bem informado, para podermos continuar a crescer enquanto nação, apoiados nos valores de Liberdade que o 25 de Abril nos proporcionou.

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