Em 2022, a Organização Internacional do Trabalho e a Organização Mundial de Saúde publicaram um estudo, elaborado pelas duas entidades, que revelou que se perdem, em média, 12 mil milhões de dias de trabalho devido à depressão e à ansiedade nos profissionais, resultando na perda de quase mil milhões de dólares à escala global.      

Resultado do ritmo acelerado do mercado tecnológico e da exigência das funções, estes tipos de situações replicam-se e têm levado as empresas tecnológicas a dar prioridade às questões relacionadas com a saúde mental. Tanto assim que, atualmente, já existem empresas especializadas e certificadas para atuar no âmbito da saúde mental em ambiente profissional.

O burnout, a depressão, o esgotamento - emocional ou físico - são problemas reais e muito presentes na indústria tecnológica, e passam, muitas vezes despercebidos, ou são omitidos por quem é afetado pela doença. Esta omissão pode acontecer por diversos fatores, sendo os mais frequentes a falta de conhecimento prévio dos sintomas associados ao burnout e o estigma de fracasso associado à necessidade de pedir ajuda. Perante esta realidade, percebemos que é fundamental continuar a desmistificar estes temas e a promover a conversa sobre saúde mental. É importante promover uma cultura de comunidade onde todos tomam conta de todos, adotando estratégias em que os Recursos Humanos, os líderes e os colegas possam ter ferramentas que permitam identificar sinais, estar atentos e ajudar a evitar que os colaboradores cheguem a esse estado de exaustão mental, físico e emocional. 

Sem dúvida que o compromisso das empresas com a empatia é cada vez mais necessário e percebe-se que é crescente o número de empresas que procuram criar e fomentar transparência e proximidade, na ótica de aproximar os colaboradores, para que estes se sintam confortáveis em falar sobre os temas da saúde mental e pedir ajuda. 

De acordo com o estudo da Mercer Marsh Benefits, “Health on Demand 2023”, 47% dos trabalhadores europeus sentem stress no dia a dia e apenas 56% destes se sentem livres para expressar pensamentos e sentimentos no local de trabalho sem temer consequências desta partilha. A criação de uma cultura institucional baseada no sentimento de pertença, nomeadamente através de processos de tomada de decisão inclusivos, pode contribuir para aumentar a confiança dos profissionais na entidade empregadora e, assim, prevenir situações extremas.

Outras medidas que podem ser adotadas pelas empresas passam pelo recurso a serviços especializados em cuidados de saúde mental, acesso a webinars sobre o tema, ou, mesmo, a facilitação no acesso a alguns serviços de saúde.               

A OMS prevê que, em 2030, a depressão seja a doença mais comum do mundo. Por isso mesmo, as empresas terão um papel fundamental para contrariar esta previsão, disponibilizando ferramentas que assegurem o bem-estar geral dos seus profissionais, incluindo, inevitavelmente, as questões mentais. 

Fornecidas todas as ferramentas de apoio psicológico, é importante não só que os colaboradores se esforcem por aderir às iniciativas criadas pelas suas empresas, mas também que as empresas tentem incentivar a partilha por parte dos seus profissionais dos problemas que estão a sentir, uma vez que nem todas as pessoas se sentem confortáveis para reconhecer estes problemas. É fundamental fomentar entre si a comunicação sobre estes assuntos e estar alerta em relação ao comportamento dos colegas.

Empresas e profissionais têm pela frente um longo caminho de adaptação, mas se as palavras de ordem forem compromisso, empatia e compaixão, será bastante mais fácil melhorar o panorama, combatendo as previsões e, a pouco e pouco, reverter as tendências.