Assisti em direto à gala de estreia do Trump e o que me pareceu é que ele resolveu acabar com o Obamacare e recriar o Natal dos Hospitais da RTP1. Foi muito fraquito para quem quer fazer da América grande outra vez. Como quase tudo o que é artista musical, nos EUA e arredores, recusou ir ao espetáculo, restavam os Pólo Norte e pouco mais. Posso estar a cometer uma imprecisão de datas mas penso que já não havia can can numa cerimónia de apresentação do Presidente dos EUA desde o James Madison. A gala foi mais ou menos o que eu esperava, daquela malta do Trump, apenas senti falta de ver cossacos a dançar.

Temos de assumir isto, temos um bimbo facho na presidência dos EUA. Uma espécie de Hitler em pato bravo. O cinzento e negro é substituído por tons dourados. Perante este quadro, podemos ter a atitude do - “isso é lá com os americanos eles que se amanhem,  é o país deles” – mas quando somos informados que, um dos primeiros decretos que Trump assinou foi o do abandono da política de combate às energias poluentes, fica mais complicado essa opção porque o “país deles”, por enquanto,  fica no nosso planeta.

Estamos em 2017 e há gente, de polegar oponível, que acha que não existe aquecimento global, que a poluição é tão natural como o mel das abelhas e que Deus é que decide o tempo que vai fazer amanhã, apesar de ter um fraquinho por apresentadoras do boletim meteorológico; daí elas acertarem tantas vezes.

Na verdade, em termos ambientais, também não faz grande diferença Trump acreditar ou não no aquecimento global porque se, por acaso, ele achasse que a situação ambiental era realmente uma ameaça, provavelmente, diria: “E vamos mandar fazer um muro para que o aquecimento global não entre nos EUA.”

Por cá, quem defende que esta teoria do acelerado degelo dos polos, etc., é mentira, são indivíduos de direita, que não acreditam no aquecimento global mas que não duvidam que uma Nossa Senhora pode aparecer em cima de uma árvore, se o tempo estiver razoável. Tenho um tio que acha que desde da morte do Manoel de Oliveira deixou de fazer sentido abordar esse tema porque os bolos de anos do realizador eram o principal responsável pelo aquecimento global.

Quando há falta de conhecimento as pessoas optam, quase sempre, por  acreditar no que lhes apetece (muitas vezes  coincide com o que os chateia menos). Há quem diga que é tudo inventado. Há icebergs do tamanho de oito Repúblicas Dominicanas (mas sem aquelas pulseiras que dão para comer em doze restaurantes diferentes) a navegar à bolina na costa da Austrália porque o gelo, nesta altura do ano,  migra para sul para se juntar às cuvetes para depois irem fazer pequenos cubinhos de gelo nas águas quentes das Seychelles. Tudo é natural e tem o seu ciclo.

Resumindo, temos o mais poderoso país do planeta entregue a um bando de milionários cretinos que acha que não existe aquecimento global enquanto houver ar condicionado. Não há maneira de fugir a isto. É como se um grupo de indivíduos dos Hells Angels fossem os responsáveis pelo condomínio do nosso prédio. As reuniões vão ser menos chatas mas vamos acabar às escuras.

Sugestões do autor

Uma exposição - Gil Heitor Cortesão, na galeria Pedro Cera  – Eu ainda não vi mas quero ir ver. Há ali uma espécie de voyeurismo de James Stewart com textura de Tati, ou então sou só eu que fumei o que não devia.

Um livro – “1984” de George Orwell – não é sobre a new wave mas é muito atual.

Um filme – “Ama-San” de Cláudia Varejão. A realizadora acompanhou a vida de 3 mulheres japonesas – Matsumi, Mayumi e Masumi – numa atividade milenar: mergulhar sem auxílio de qualquer equipamento para apanhar marisco. Estreia, a 26 de janeiro, no Cinema Ideal.