Nas ultimas décadas tem-se acentuado de forma mais marcada a crescente perda populacional, que representa um envelhecimento gradual da sociedade portuguesa.

Perante este facto, estamos já hoje com uma enorme série de riscos que devem ser enfrentados com realismo e coragem, sem distrações com temas fraturantes pois temos de dirigir a nossa atenção para o essencial, o envelhecimento imparável do país e sobre os efeitos de toda ordem que daí advêm.

Ora, esses efeitos são inúmeros, desde os potenciais conflitos intergeracionais até à eventual dependência física, mental e económica dos idosos.

O envelhecimento demográfico é, como bem sabemos, fruto de progressos que a humanidade alcançou em vários domínios: o aumento da longevidade associado à melhoria da qualidade de vida – melhoria dos cuidados de saúde, educação e rendimento – e o declínio da natalidade associado à escolarização, emancipação da mulher e à sua participação no mercado do trabalho.

Não deixa, no entanto, de ter implicações problemáticas.

Quando olhamos para as projeções relativas à evolução da população nas próximas décadas, o cenário fica ainda mais grave. O problema central que o envelhecimento demográfico coloca é uma redução muito acentuada da população activa. A escassez da força de trabalho, poderá levantar problemas de sustentabilidade económica e social. A segurança social e o sistema de saúde implicarão forçosamente mais despesa e isso aumentará a pressão financeira.

Este aspecto muito positivo que é o aumento da esperança de vida exige, pois, políticas públicas de apoio a um envelhecimento activo e saudável, o que implica uma reestruturação radical do processo de educação-trabalho-reforma, assim como o investimento em saúde, cuidados sociais e mobilidade.

A questão principal prende-se com o facto de medidas avulsas e reactivas, focadas no curto prazo, não favorecerem uma estratégia global de políticas articuladas e integradas dirigidas para resultados no longo prazo. Mas também é um facto que a intervenção e mobilização da própria sociedade civil tem sido mínima.

Os princípios do envelhecimento ativo têm sido muitas vezes utilizados para justificar medidas políticas que mais não visam que o alongamento das carreiras contributivas, com os consequentes benefícios temporários em termos de sustentabilidade financeira da segurança social. O que se espera do envelhecimento activo não é uma abordagem apenas centrada na dimensão financeira e/ou na escassez da força de trabalho, mas sim uma abordagem que integra as muitas facetas que influenciam a qualidade do envelhecimento.

É imperativo agirmos de forma determinada em várias frentes: na saúde, na aprendizagem ao longo da vida, na participação cívica, nas escolas e universidades, nas empresas e na organização do trabalho.

Uma atenção especial para os cuidados continuados perante a comorbilidade e a mobilidade limitada dos idosos, o que supõe novas instalações e pessoal de qualidade, assim como o aumento de cuidados a prestar na comunidade e ao domicílio. O crescente envelhecimento também exigirá alterações profundas na conceção do edificado construído e a construir, alterações no sistema de transportes de maneira a que assegurem efectivamente às pessoas mais velhas a possibilidade de uma maior mobilidade possibilitando a estas uma vida mais autónoma.

A meta é vivermos mais tempo com qualidade de vida, e com elevados níveis de inclusão económica e social.

Inverter a tendência que hoje existe, será o grande desafio não só das forças políticas, mas de toda a sociedade portuguesa. Esta é uma batalha urgente e que requer um consenso alargado, para o qual estamos todos convocados, sem dogmatismos ideológicos, mas com uma grande dose de realidade pragmática.

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