Diz um provérbio oriental: “Quando nos invade a pena, um dia dura tanto como três outonos”. É difícil fechar as feridas, mas é imprescindível abrir os corações.

Em ocasiões como a de agora, vem à memória o longo silêncio do papa Francisco quando visitou o campo de extermínio de Auschwitz. Foi um silêncio doloroso, de compaixão. O papa mostrou ali como nada poderia ser mais eloquente e comovedor do que o silêncio.

A tragédia em Pedrógão, como a de uma semana antes numa torre de Londres, num tempo europeu que se pressupõe tecnológico, de progresso, confronta-nos, simples cidadãos, com a impotência frente à ameaça de morte, sempre terrível, mas que nos aparece mais asfixiante quando provocada assim pelo mais antigo dos elementos devastadores.

Levantam-se tantas questões: que incúrias, que imperícias facilitaram o desastre? São perguntas que vão precisar de procura de respostas sérias, serenas, ponderadas. Já estamos a ser bombardeados com a opinião de gente que é puxada para dizer o que nada acrescenta e talvez peritos que aparecem como que a dar-nos lições. Mas esta não é altura para o ruído. O que precisamos é de gente que seja capaz de estar à altura deste momento em que tanta gente nem sequer conseguiu enterrar os seus mortos.

A seguir, há então que procurar as perguntas e respostas que chegam tarde para as vítimas. Tendo em conta a importância que a floresta tem no património português, vai certamente ser necessária muita determinação, muito estudo de cientistas e técnicos e, da parte dos políticos, coesão e energia para decidir e aplicar o que for entendido como necessário para estancar esta brutal e recorrente ameaça do fogo na floresta. Há de ser necessário mexer com más práticas enraizadas e interesses instalados. Tem havido nestes dias um indicador de alguma esperança: um raro respeito e decência no discurso de todos os políticos.

Assim o jornalismo pudesse estar à altura, evitando falar para nada acrescentar, sendo capaz de pudor e saber não aparecer como predador do sofrimento das pessoas.

Lembro-me do que aprendi numa outra tragédia portuguesa, a queda da ponte que ligava Castelo de Paiva a Entre-os-Rios. Uma mulher, jovem, tinha o olhar não sei se perdido se fixado, demoradamente, no rio que tinha levado 59 vidas. Algumas dessas pessoas que não voltariam seriam próximas dela. Embora procurando o melhor respeito que consegui, fiz-lhe uma pergunta. Respondeu-me assim, em voz de sussurro: por favor, silêncio.

Também a ter em conta:

Um militar português, o sargento-ajudante Paiva Benido foi morto neste domingo. Integrava um grupo de 10 militares portugueses em missão no Mali. Estava em Bamako na missão de combate pela liberdade de nós todos, frente ao terrorismo. É-lhe devida homenagem nacional e todo o apoio à família.

Finsbury Park: visita no The Guardian a um lugar onde está gente de todos os horizontes. Foi o alvo de um ataque de um islamófobo.

Algumas das mais sedutoras casas pelo mundo.

Como o parlamento francês vai mudando: a esquerda PS, em cinco anos, cai de 336 para apenas 49 deputados; a direita republicana, de 212 para 113. Irrompe agora a marcha de Macron, com 350. Chegou a estar previsto que chegasse aos 400.

A calamidade em Portugal na primeira página de jornais pelo mundo: no The New York Times, no Wall Street Journal, no The Dallas Morning News, no Corriere della Sera, no La Razon, no ABC, no La Vanguardia, no El Periodico, no Voz de Galicia, no Der Taggespiegel, no Frankfurter Allgemeine, no De Morgen, na Folha de S.Paulo, no Ta Nea, no Irish Times, no De Telegraaf, no Het Parool, no AD, no Trouw.