Ouço amiúde queixas sobre os filhos, a nova geração dos 20 e poucos anos de idade, acabada de sair da faculdade ou desistente do ensino superior. Filhos que não querem fazer. Que desistem com facilidade. Não sabem lidar com a frustração. Sentem-se pressionados e, ao mesmo tempo, inábeis. Não têm brio. Não chutam a bola para a frente.
Eu ouço e argumento: o mundo está em guerra, o mercado de trabalho não é aliciante, os ordenados de princípio de vida profissional – e os outros – são baixos, a possibilidade de autonomia face aos pais é reduzida, a esperança é nenhuma.
A nova geração não tem defeito de fabrico, é produto do tempo (no limite os pais terão algumas culpas no cartório, ou estou a ver mal a coisa?). Viveu a pandemia com espanto. Ouve as ameaças de Putin, sem entender como é que a guerra dura desde 24 de Fevereiro. Preocupa-se com o ambiente. Mas, acima de tudo, a nova geração sabe que não ultrapassará os pais em qualidade de vida, em conquistas e possibilidades.
O mundo não é um lugar feliz para quem é novo. Não será para as diferentes gerações, por motivos diferentes. Os mais novos são, contudo, um garante de futuro que não é metafórico, é real. Como podemos nós exigir que haja entusiasmo e motivação, se o horizonte do futuro parece tão pouco apelativo? Argumentamos com um “Ah, vocês não viveram a guerra, o fascismo, a crise dos anos x e y e z”. Estes argumentos servem de muito pouco, todos pensamos que o nosso tempo é que serve de exemplo. A vossa experiência. Os nossos sacrifícios.
Os mais novos talvez não se estejam nas tintas para o que foi, não estão decerto para o que será, mas o mundo que existe hoje não é, efectivamente, animador. Portanto, os mais novos, aqueles de quem os pais se queixam por falta de objetivos, os que estão a sair do ninho parental próximo dos 30 anos, ou até mais tarde, que vivem na velocidade da informação, terão argumentos de desalento bastante válidos. Os mais velhos, ao invés de ajudar, criticam, porque é mais fácil. Porque é rápido. Porque julgar é um tique humano que se instalou com a mesma força com que se instalou a intolerância. Perguntem-se: gostariam de ter vinte e poucos anos, em Portugal? Gostariam de não ter emprego ou, tendo, perceber que progressão de carreira, ou salarial, é um sonho próximo do pesadelo? Eu, confesso, não invejo esta geração.
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