Maldizer duas mulheres, profissionais, com provas dadas, e criticar a partir do corpo e da objetificação do corpo, é inadmissível. Também é nojento. Assim fez um tal de Alexandre Pais (esta fórmula “um tal” é para assinalar todo o meu desprezo).

Para promover a maldade, o pensamento pequeno, no caso machista e formatado pela ideia de que existem “padrões” e conceitos de elegância que são da sua competência, este putativo cronista contribui para tudo aquilo que os órgãos de comunicação social deverão evitar. Como diria a minha avó: uma ova!

Claro, ela teria razão ao pensar que a revista onde esta alma escreve está a esfregar as mãos de contente com o falatório. Falatório significa visualizações, likes, a propagação da marca, salvo seja, e isso ainda torna tudo mais deprimente.

Não é o facto de ser uma crónica sobre uma figura pública, embora se entenda que dará azo a mais comentários e tal, mas a forma incrivelmente maldosa com que se ataca não uma, mas duas mulheres. Uma por ser “robusta” e precisar de mais “sacrifícios”, outra por ter nos braços “flacidez do tempo”. Pior ainda, como é próprio das mentes pequenas, faz elogio a outras duas mulheres dizendo que depois dos 50 souberam vestir-se e apresentar-se com “respeito”. A comparação é mais um mecanismo de desvalorização.

Quem quer saber da opinião de Alexandre Pais? Porventura ninguém, mas a impunidade deste género de texto parece-me absurda. Não tinha mais nenhum tema para escrever? Passar-lhe-ia pela cabeça fazer o mesmo género de reparo a quatro homens: ah, este tem excesso de peso, o outro está com umas entradas terríveis, aquele tem barriga e por aí fora? Não. As mulheres têm sempre essa enorme facilidade de serem agredidas pelo simples facto de serem mulheres e porque o nosso corpo pode ser comentado como uma coisa natural.

Existem estas pessoas que, para mais, não têm espelho lá em casa, mas não há uma linha editorial que olhe pela deontologia dos conteúdos? Não. Porventura ninguém leu a dita crónica. Publicou-se e agora acha-se graça ao processo de indignação: não interessa que digam mal, desde que digam alguma coisa.

A mim não me importa perguntar se o senhor gostaria se fosse a filha ou a mãe. Não creio que esse caminho da retórica seja benéfico, pelo contrário, diminui - mais uma vez - as mulheres. Esta semana somos todas Maria e Cristina. Será muito esperar que ninguém seja Alexandre? Sim, eu sei o país onde vivo, por isso, aos Alexandres, digo: ide-vos catar.

P.S.: Em sua defesa, o dito cronista diz que expressou a sua opinião e que não "tem medo". Ainda bem que não tem medo, pena é que não entenda que até a sua "defesa" é igualmente miserável.