No particular antes da estreia no Mundial, contra a Nigéria, Portugal tinha jogado bem. Contudo, enganaram-se redondamente todos os que esperavam que a exibição desenvolta e produtiva se repetisse contra o Gana. Tudo bem, são dois países situados em África. Mas para que Portugal tivesse tantas facilidades contra o Gana como teve contra a Nigéria era preciso que convencêssemos os ganeses a entrar em campo com José Peseiro no banco de treinadores. Infelizmente, não foi possível.

Inspirado por estar a disputar uma partida num estádio feito de contentores, o Gana atracou um cargueiro à frente da baliza. Eventualmente, tal como acabará por acontecer com o estádio em que a partida se jogou, a estrutura viria a ser desmontada. Ainda assim, na primeira parte, percebemos que Seinfeld é uma série sobre quanto Portugal joga, na medida em que é uma série sobre "nada". Deu a ideia de que a FIFA tinha contratado figurantes por 10 dólares por dia e alojamento em tenda para representar a seleção portuguesa. Nos primeiros 45 minutos, a seleção africana apresentou-se organizada, a portuguesa foi um caos inconsequente. Contrariando o previsível, todos os jogadores ganeses sabiam o que estavam a fazer, enquanto os nossos faziam o que lhes dava na real gana.

Para além disso, o árbitro era americano e via-se que era contra o gun control, uma vez que estava armado em parvo. Em conflito com o que é habitual na política migratória do seu país, ele teve um notório pudor em expulsar. E não quero saber o que diz a imprensa estrangeira: se não assinalasse o penálti sobre Ronaldo, seria o maior escândalo perpetrado por juízes americanos desde a reversão do Roe v. Wade. Em ambos os casos, não estou disposto a considerar outras perspectivas.

Ronaldo fez golo no seu 5º mundial e desta vez não foi preciso abanar o frasco de ketchup. No Catar, o molho de iogurte veio já pronto a servir, dado a provar a todos os que suspeitam que já esteja fora do prazo. Pelo contrário, Bernardo Silva - um humanista - fez boicote ao Catar e não apareceu. Quanto a João Félix, denunciou aos tribunais humanitários estar sob sequestro em Madrid e, na segunda parte, acabou por desfrutar da recém-conquistada liberdade. O jogador português, em virtude do que tem passado no Atlético, precisava desesperadamente de ler uma obra de auto-ajuda. Finalmente, abriu o livro.

É verdade que Portugal só marcou depois da incompreensível entrada de William Carvalho em campo, mas isso só prova que Fernando Santos tem uma excelente relação com Deus e provavelmente a situação fiscal regularizada no Céu. De qualquer forma, talvez por causa da temperatura do ar condicionado no estádio, talvez por causa do recente contacto com José Peseiro, Fernando Santos esteve perto de voltar a ser pé frio. É que, mesmo no fim, o guarda-redes esteve prestes a estimular as políticas públicas de habitação no Catar, oferecendo uma casa. Mas pronto, ganhámos: para já, aquilo que o Diogo fez é para deixar para trás da Costa. Que não se repita, pela saúde de Paulo Futre.