Na saga Toy Story, Buzz Lightyear, cujo nome é inspirado no de Buzz Aldrin, é um brinquedo astronauta. O seu lema é "para o infinito e mais além" e é conhecido pela dedicação à leal amizade que tem com o seu colega Woody e o seu proprietário Andy. Não confundir com Jeff Bezos, astronauta de brincar, cujo lema é "para o infinito dinheiro e mais além" e que tem até mais semelhanças com a personagem Sid, do mesmo filme, que maltrata brinquedos (neste caso, seres humanos que trata como brinquedos, julgando ser seu dono). Bezos andou nesta terça-feira de nave e a sua viagem de 11 minutos à fronteira do espaço teve cobertura televisiva digna da missão lunar. Depois do Apolo 11, o Apolo 11 minutos. 

Jeff Bezos, magnânimo, não cumpriu o seu sonho sozinho. Levou o seu irmão, uma astronauta de 82 anos e ainda um jovem de 18, sendo que este último pagou mesmo a passagem. 28 milhões de dólares por 11 minutos numa cápsula. Eu julgava que largar 300 euros por aquelas viagens a Benalmádena num autocarro já era mau, mas ir ao espaço com o Jeff Bezos num percurso mais curto que o do Cacilheiro tem mesmo de ganhar o prémio "viagem de finalistas de merda". É, sem dúvida, a forma mais estúpida de gastar o equivalente a quase 25 milhões de euros desde que o Benfica contratou Darwin Nuñez à Unión Deportiva Almería. No século XX, construíram-se vaivéns para cientistas explorarem o desconhecido; no século XXI, faz-se uma festa por causa de um tuk-tuk que mal sai dos limites da atmosfera.

O dia de hoje não é histórico do ponto de vista do progresso. O homem já ia ao espaço: o aperfeiçoamento que este evento representa prende-se sobretudo com a bilhética. Se antes o espaço era território da ciência, que claramente representa a comunidade e o bem comum, agora é o novo resort isolado dos bilionários. Depois do homem na lua, os homens que nasceram com o rabinho virado para a lua, que ensaiam a fuga de um planeta que decididamente não desejam salvar. Em princípio, já tiraram senha na Loja do Cidadão para obter o visto de residência em Marte. Isto não é bem a corrida ao turismo espacial, é mais prospeção imobiliária.

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