Até ao final do ano passado, estes partidos pouco se falavam, por razões óbvias: primeiro, precisamente porque são nacionalistas, e depois porque estão em diferentes estágios de desenvolvimento nos seus países.
O Front Nacional é um sério contendor nas próximas eleições francesas, enquanto a Alternativa para a Alemanha ainda agora começou a fazer figura (parada nos 12 a 15% do eleitorado), e o Fidesz está no poder na Hungria desde 1998. O Partido Holandês da Liberdade ficou em terceiro nas últimas votações, e o Partido Austríaco (também) da Liberdade perdeu a última eleição legislativa por uma unha negra – chegou-se a pensar que ia ganhar. A Liga do Norte tem no seu programa a separação da Itália, o que lhe limita grandemente um apoio nacional significativo, mas já fez parte do Governo de coligação chefiado por Berlusconi, em 1994. Ao todo, os partidos ideologicamente populistas já fazem parte do Governo de sete países europeus.
Mas no final do ano passado três acontecimentos exteriores a este grupo vieram dar-lhe força; a vitória do Brexit, a consequente nomeação da conservadora e nacionalista Theresa May para Primeiro Ministra do Reino Unido, e a eleição do também conservador e nacionalista Donald Trump nos Estados Unidos.
Assim, unidos na sua vontade de uma Europa desunida, os partidos que fazem parte do grupo “Europa das Nações e da Liberdade” no Parlamento Europeu juntaram-se pela primeira vez neste 21 de Janeiro em Koblenz, na Alemanha, convidados por Frauke Petry.
Mais do que um plano comum, tão contrário aos seus princípios individualistas, os presentes festejaram o leque de possibilidades que acham que os últimos acontecimentos lhes prometem.
Nas alegres conversações, salientaram-se logo um herói e um vilão comum. O herói é Trump, não só porque o seu ideário moral (anti-IVG, anti-LGBT) e político (anti-comunicação social, anti-imigração, anti-globalista) é idêntico, como também porque demonstrou a possibilidade impensável de uma vitória populista num país liberal. O vilão é Angela Merkel, europeísta, elitista (segundo eles) e amiga dos imigrantes.
“No ano passado os ventos começaram a mudar, com a vitória de Trump!” proclamou Geert Wilders, e os cerca de mil participantes (sobretudo membros da Alternativa para Alemanha - AfD) responderam com cânticos e aplausos.
“As nossas ruas estão um caos e nós a pagar para os refugiados frequentarem piscinas!”, lembrou Matthias Niemeyer (da Alternativa), enquanto o público gritava que Merkel tem de se ir embora o mais depressa possível.
Wilders, que acabou de ser condenado na Holanda por incitamento à discriminação racial, foi ao ponto de dizer que as loiras europeias andam com medo de mostrar o cabelo pois podem ser atacadas pelos imigrantes escuros e selvagens. Em geral, estas e outras queixas predominaram nas apresentações. A excepção foi Marine Le Pen, que realmente é uma oradora cativante, sente o pulso da audiência e sabe misturar afirmações sérias com apartes divertidos.
Falou de uma “primavera patriótica”, usando a mesma lógica que deu a vitória a Trump, e a que já recorria antes dele: é preciso uma revolução das pessoas comuns, prejudicadas pela globalização, contra os políticos do “antigamente”, que prometem mundos e fundos mas não mexem no sistema de domínio das elites financeiras do “sistema”. São essas elites que realmente têm uma atitude anti-europeia, ao ir buscar lucros à mão de obra barata do Oriente. São afirmações iguais ao que disse Steve Bannon, o estratega de Trump, ao New York Times: “Os globalistas esventraram a classe trabalhadora norte-americana e criaram uma classe média na Ásia.”
Apesar de tanto entusiasmo, do encontro não saiu uma agenda comum; os temas andaram à volta da xenofobia, racismo e mania da perseguição, com mais acusações do que propostas. Alguns destes partidos têm problemas difíceis de solucionar; como é que o partido de Frauke Petry quer resolver a situação dos milhões de estrangeiros, entre turcos estabelecidos e sírios desamparados, que já estão instalados na Alemanha? E como é que a Liga do Norte vai enfrentar o movimento 5 Estrelas de Bepe Grillo, que tem um apelo muito mais abrangente em Itália? No entanto, todos percebem que têm o vento a favor e, mesmo sem maioria maioria institucional, já influenciam os respectivos governos, ou porque os querem esvaziar, ou porque reconhecem que as políticas vigentes não agradam a milhões de abandonados pelo sistema.
Uma coisa é evidente; o nacionalismo e o populismo estão a crescer e, mesmo que não cheguem ao poder numa maioria de países europeus, podem ter grande influência no desfazer da proposta unificadora. Numa Europa que parece não encontrar um caminho que lhe sirva, os nacionalistas conseguiram deixar de ser o passado vergonhoso para se apresentar com um futuro interessante.
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