Quero começar por dizer que não sou contra o debate contra pessoas que têm ideais que vão contra os direitos humanos. Seja um homofóbico, um racista, ou um nazi, acho o debate importante para destruir as ideias extremistas que nascem aqui e ali. Acho que varrer o lixo para baixo do tapete é mais perigoso do que dar-lhe tempo de antena e não tenho dúvidas de que tenha sido essa política da demonização sem debate e da censura através politicamente correcto que deu força a Trump, Bolsonaro e outros movimentos de patetas que deram à costa nos últimos anos.

Dito isto, é parvo ter um nazi num programa da manhã de uma televisão? É um bocado. Principalmente quando é apresentado como “Autor de algumas frases polémicas”. Não, não foi por algumas frases polémicas que esteve preso, foi por crimes graves, de ódio, de ofensa à integridade física, de sequestro, e de envolvimento em homicídio de uma pessoa só porque esta tinha tido o azar de nascer com a cor de pele errada, segundo ele. Era o mesmo que ter um estripador e canibal a apresentar a rubrica de culinária só porque sabe amanhar um borrego como ninguém.

Como simpatizante da democracia e do Estado de Direito, acho que quem cumpre a pena pelos seus crimes passa a ser um cidadão como os outros. Não sei até que ponto o Mário Machado deu uma de América Proibida e, depois do duche, teve a epifania que se calhar aquilo de ser racista era parvo. Não sei se apagou a laser a suástica que tem tatuada no antebraço direito para ornamentar a saudação nazi que tanto fazia. Não sei se ele mudou, mas pela conversa não me parece, talvez tenha ficado menos radical até porque não deve querer ficar preso outra vez. Dou-lhe o benefício da dúvida e acho que pode ser interessante tê-lo num debate sobre isso, sobre os crimes que cometeu e como mudou ao longo dos anos, sobre o que mudaria e aquilo de que se arrepende, sobre o que acha que o levou a praticar e a pensar as ideias que tem.

Isso seria interessante, nem que fosse para percebermos a origem destas ideias e como as prevenir, sem censurar, mas a educar. No entanto, tal como acho que um pedófilo condenado não deverá ir trabalhar como segurança de um berçário, também acho que um gajo condenado por crimes de ódio e (ex?) líder de movimentos nazis, não deve ir mandar bitaites sobre se determinado político faz falta a Portugal ou não. Também acho que condenados por corrupção em cargos políticos não devem poder candidatar-se outra vez, mas isto sou eu que não sou morador do Concelho de Oeiras.

A linha entre o debate e a propaganda gratuita é ténue e, pelo que se percebe, os programas da manhã que entretêm velhinhas não a sabem traçar. Fizeram merda, acontece a todos, é normal cometer erros no desespero e que, por isso, tenham achado boa ideia combater a Tininha da Malveira com o Marinho de Monsanto, tudo em nome das audiências. O pior é que funcionou e os accionistas das televisões privadas querem ter share porque o bom senso não paga a gasolina do Ferrari. A pensar nisso, deixo aqui algumas ideias, pois vejo aqui todo um potencial para novos formatos televisivos que envolvam nazis: “Ditadores à primeira vista”; “Acha que sabe discriminar?”; ou um “Casados à primeira vista” em que metem um nazi cego com uma negra, só para fazer pirraça.

O fascismo entra-nos em casa com pezinhos de lã e entre o diário de um reality show e o Calcitrin. Sinto que se perdeu uma boa oportunidade de meter o Mário Machado a convencer as velhas a ligar para o 760 e ganharem 100€ para gastar em soqueiras e mocas com pregos porque isto de Portugal ser o 4.º país mais seguro do mundo é tudo mentira. Já agora, podiam ter usado a presença do Mário para vender o cogumelo do tempo e dizer que quem tomar tem uma trip alucinogénica que volta ao tempo do Salazar onde foi tão feliz porque não havia crise, já que a crise nessa altura chamava-se “ser português pobre e conformado e ninguém refila se não leva no lombo." Bons tempos do Futebol, Fátima e Fado e não é como agora que é Futebol, Fátima e Funk Favela que isso, sim, é uma praga.

Portugal só precisa de um Salazar se for para o ver cair da cadeira. Isso sim, tenho a sensação de que deve ter sido um momento feliz que nunca vou poder viver. Os festejos do golo do Éder ao lado da morte de Salazar devem ter parecido estalinhos de carnaval molhados.

Sugestões e dicas de vida completamente imparciais:

Para ver: Politicamente Correcto, de João Quadros
Para ver: América Proibida
Para rir: Só de Passagem