Portugal é uma telenovela, já se sabe, todos nós cumprimos um papel e existem orientações no guião que escapam ao entendimento da personagem mais comum. Uns amigos meus, muito próximos, tiveram COVID-19. Não podem ser vacinados. Não podem porquê? Ora, a questão até se responde assim: porque são honestos. Ambos informaram as empresas onde trabalham que ficaram infectados, estiveram de quarentena, tiveram alta e regressaram aos seus postos de trabalho. Até aqui tudo bem.
O problema começa quando, ambos com mais de 50 anos, percebem que não os deixam tomar a vacina. Ordens da Direcção-Geral da Saúde: pessoas que já tiveram COVID-19 devem esperar seis meses até serem vacinadas. Há aí muita gente, nomeadamente influencers e outras figuras públicas, cujo guião de vida contraria esta medida da DGS. Basta ver nas redes sociais as fotografias, a serem vacinados pouco tempo depois de terem estado doentes. O que os separa dos meus amigos? Não faço ideia.
A pergunta impõe-se: e como é nos outros países? As respostas são diferentes, mas vamos simplificar — noutros países da Europa os meus amigos já teriam a vacina, conforme e de acordo com a sua faixa etária. Ao fim de três meses, pessoas que tiveram o vírus são vacinadas. Os meus amigos, a quem sugeri o autoagendamento não queriam acreditar, mas isso não era uma hipótese: “Não podemos fazer autoagendamento, estamos sinalizados como pessoas que estiveram infectadas”.
O sistema parece funcionar lindamente, certo? Nem por isso, porque eu, por exemplo, recebi um telefonema ao fim do dia para ser vacinada e, uma semana depois, recebi uma mensagem escrita para ir outra vez, já com a segunda dose marcada. Enfim, o sistema funciona como o país, tem vontade própria, numas situações isto, noutras aquilo. A coisa complica-se é quando uma destas pessoas tem de trabalhar numa empresa pública, entrar em contacto com pessoas diferentes todos os dias e o teletrabalho não é opção. Conclusão? Temos governantes mais papistas que o Papa. Entretanto, os números voltam a subir.
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