O filme Regresso ao Futuro vendeu-nos uma ideia de que por 2018 teríamos skates e carros voadores e sapatos que atam os atacadores sozinhos. Nada disso se realizou e, ao invés, o que temos é de avisar pessoas com idade para ter juízo que comer cápsulas de detergente pode fazer mal à saúde. Júlio Verne e outros futurologistas dão, certamente, voltas no seu caixão.

Sempre houve desafios palermas entre os jovens, faz parte da idade, e os que mais faziam porcaria acabavam por ser sempre os mais populares da escola. A diferença é que a maçã podre do pomar tinha um alcance menor do que hoje e se antigamente o pomar era a turma ou, na pior das hipóteses, a escola, agora o pomar é o mundo inteiro numa aldeia cada vez mais global com as redes sociais e, como em todas as aldeias, há sempre um ou dois malucos e bêbedos fruto da consanguinidade. No entanto, os jornais e media tradicionais que tanto criticam as redes sociais, são o comburente dos incêndios que por lá acontecem, diariamente. Os “desafios virais”, como lhe chamam, muitas vezes não eram virais antes de serem noticiados como tal, fazendo com que toda a gente contribua para disseminar a estupidez. Eu próprio, com este texto a dar protagonismo à moda da cápsula gourmet de detergente. Tenho a certeza que algum desses putos que já comeu cápsulas de detergente vai dizer ao jantar com os pais «Brócolos? Não gosto de brócolos, mãe!». Nessa altura, é só misturar uma cápsula de detergente nos brócolos e dar um chapadão à padrasto na cara do imbecil. Não esquecer de filmar e mandar para a Super Nanny para ela aprender como se faz.

Sinto que estamos perto de atingir a singularidade, mas ao contrário do que era expectável, não será uma singularidade que nos dotará a todos de superinteligência e conhecimento instantâneo, pois acho que caminhamos para a singularidade da estupidez, com milhões de cérebros a “pensar” da mesma forma. Quando a humanidade se extinguir e o planeta terra for encontrado por seres de outra galáxia, os estudos arqueológicos e paleontológicos que irão conduzir vão relevar que a evolução humana seguiu um caminho estranho: foi lenta, durante milhões de anos, depois tornou-se exponencial até que, por volta dos anos 2000, começou a estagnar. Os crânios encontrados dos nossos descendentes daqui a 100 mil anos serão iguais aos actuais, porque estamos a decidir interferir na selecção natural. Antigamente, deixava-se a natureza seguir o seu curso, havendo uma triagem e se alguém fosse lamber um sapo vermelho e amarelo e morresse com o veneno, não ficava cá para se reproduzir e espalhar os seus genes pouco inteligentes. Aliás, com os nossos antepassados o processo era simples: A vê B lamber um sapo vermelho e morrer a seguir; A não vai lamber um sapo e se lamber morre também e não procria. Agora, A vê B comer uma cápsula de detergente e vomitar-se todo e ir para o hospital; A experimenta também a cápsula e filma-se para que outros vejam. Os outros, vendo, decidem experimentar também, numa espécie de corrente da burrice. É deixá-los ir, não podemos entrar todos em pânico para avisar os jovens que não podem degustar cápsulas de detergente. Estejamos calados e deixemos a natureza seguir o seu curso. Por mim, até podemos incentivar e nesse sentido deixo uma receita de Pica Pau para essa gente que gosta de desafios:

- 200g de carne da vazia

- 50g de pickles

- 10 cápsulas de detergente

- Mostarda, caldo de carne e lixívia

Acompanhar com rúcula, vinagre balsâmico e cogumelos selvagens de cor duvidosa.

Sugestões e dicas de vida completamente imparciais:

Não bebam acetona

Não lambam sapos com cores estranhas. Aliás, não lambam sapos, no geral.

Dia 3 de Fevereiro, em Cascais, vou estar com o Nuno Markl, Guilherme Fonseca, Dário Guerreiro, Hugo Rosa e Cátia Domingues, num evento de stand-up comedy que reverte a favor da ANIMAL. Informações e reservas aqui.