Projetam-se dias de calor para o resto da semana, mas até agora o verão não tem sido propício a tardes de praia ou noites de conversa no terraço. As restrições de fim de semana, vigentes em determinados concelhos, como por exemplo o da Amadora, convidam até os cidadãos a estirar-se no sofá e a visionar sofregamente comédias românticas. Esse género de obras cinematográficas respeita habitualmente um cânone formal, raramente alvo de disrupção, em que o espectador fica na seguinte dúvida: "será que eles vão acabar juntos?". O desfecho raramente é surpreendente e o caso não é diferente para a rom-com em análise neste texto. Confirma-se: Manuel Luís Goucha e o populismo assumiram mesmo a relação.

Suzana Garcia formalizará a sua candidatura à Câmara Municipal da Amadora nesta quarta-feira e a sua Comissão de Honra será presidida por Manuel Luís Goucha. A candidata que, segundo José Silvano, talvez não fosse ideologicamente apta para a bancada do PSD mas que chega e sobra para liderar uma das maiores autarquias do país, conta agora com o apoio de uma das caras mais queridas da televisão portuguesa. Desatentos espectadores da trama terão ficado perplexos com a tomada de posição do apresentador, que julgavam sensato e cuja tendência para dar plataforma a populistas ou extremistas ligavam a um amor incondicional de Goucha pela pluralidade e pelo confronto de ideias.

Afinal, alegou isso mesmo quando recebeu Mário Machado no seu programa em 2019. Manuel Luís Goucha piscava o olho às audiências movidas a polémica ao mesmo tempo que passava a ideia de que convidava tais personagens para desmontar o seu discurso e pô-los em causa. Quando, em janeiro, fez uma assistência para golo sob a forma de pergunta a André Ventura ("Vivo com um homem há 21 anos. Odeia-me por isso?") foi presenteado com loas e garantias de que fazia mais para a descredibilização da extrema-direita do que a maioria dos jornalistas. Com a notícia desta terça-feira, essa ambição de imparcialidade cai por terra.

Goucha tem todo o direito de se envolver na política e de apoiar Suzana Garcia, não sejamos castradores. A questão é: a troco de quê? Não lhe era mais útil a superioridade moral de quem ouve os dois lados sem se comprometer com nenhum? É que Manuel Luís Goucha, profissionalmente, é uma estrela do day-time; politicamente, será o figurante que vem em carrinhas, que se senta na plateia sorridente, à espera do lanche, e que fica a bater palmas sem saber muito bem a que é que está a bater palmas. Por outro lado, podemos dizer que Goucha é fundador de uma corrente ideológica: aquela que implica fingir que se é moderado para agradar à maioria, para depois revelar as verdadeiras simpatias com a direita populista. Bem-vindos ao nacional-gouchismo.

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