O Fundo Monetário Internacional — organismo que, como sabemos, deve a sua sigla a uma canção de José Mário Branco (espero que tenha sido remunerado) — revelou previsões para 2022 e, ao que parece, são bem mais pessimistas do que as do Ministério das Finanças. Fernando Medina, pessoa que devia ter revisto em baixa as previsões de continuar como presidente da Câmara de Lisboa, prevê uma redução do défice para X e um crescimento económico de Y, ao passo que os outros nerds de Washington acham que vai ser pior (pesquisem vocês os números em concreto, eu não sou a Susana Peralta).
Quando Fernando Medina foi anunciado como o novo Ministro das Finanças, a leitura do comentário político em relação à atribuição de um cargo político a um político foi “bom, desta vez é um político”. A redundância, na verdade, justificou-se porque, até agora, António Costa costumava lidar com a pasta das finanças como o cidadão comum lida com uma avaria no esquentador: "se for eu a tentar resolver o problema vai dar asneira, o melhor é não arriscar e chamar um técnico".
Foi assim que conhecemos Mário Centeno, o “Cristiano Ronaldo” das Finanças, e depois João Leão, o “jogador fictício do Pro Evolution Soccer 4 sem cabelo ou feições” das Finanças. Medina, por outro lado, é um jogador de política que estava prestes a pendurar o cartão de militante e que foi chamado à última hora para a derradeira convocatória de Costa. Não tem, portanto, margem para encarnar a personagem do choninhas preocupado com o défice que não deixa o Pedro Nuno Santos estoirar dinheiro. Ao contrário dos ministros das Finanças que viveram a vida toda no interior de uma folha de cálculo, Medina precisa, mais do que um PowerPoint todo certinho, de que as pessoas gostem dele. Problema: à partida, não gostam muito.
Essa ânsia de agradar terá levado Medina a posicionar-se como sucessor de António Costa, não na qualidade de secretário-geral do PS, corrida da qual parece arredado, mas na qualidade de otimista irritante. Mário Centeno ficou com a fama de fazer previsões pessimistas para depois recolher louros dos resultados positivos, já Medina aparentemente tem feito previsões demasiado esperançosas, confiando que o Deus das Contas Certas escreva direito por linhas de Excel tortas.
Num momento em que as pessoas já sentem no bolso a concretização de expressões complicadas que se aprendem no primeiro semestre do ISEG como “espiral inflacionista”, julgo que não será altura para toxic positivity aplicada a cenários macroeconómicos. Depois do “vai ficar tudo bem”, dispensamos o “vai ficar tudo consolidado”.
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