Na noite das eleições europeias, o grupo político “Os Verdes” foi o grande vencedor, tornando-se a quarta força política europeia, e o PAN - Partido dos Animais e da Natureza foi a surpresa eleitoral no nosso país obtendo um resultado de 5,08%, a nível nacional, alcançando o maior número de votos no município de Oeiras, com um resultado de 9,5%.

Vai daí Miguel Sousa Tavares insulta quem se preocupa com o ambiente, denominando-os de "urbano-depressivos", que "comem verduras, alfaces, tudo isso". Qualquer dia ainda funda o Partido dos Caçadores e das Touradas para ter tempo de antena para meia dúzia de velhos do Restelo. Que fique a saber que eu não sou votante do PAN, mas o ambiente está no topo das minhas prioridades e também tenho preocupações com os animais.

Estes resultados foram uma surpresa para a maioria dos dirigentes e militantes dos partidos tradicionais (PS, PSD, PCP, CDS), e também para a maioria dos comentadores de sempre e alguns jornalistas. Mas, a verdade inconveniente, é que muitos partidos e políticos continuam a fazer campanha como se ainda estivéssemos no século XX. E o mundo já não é o que era, mudou. Efetivamente as alterações climáticas (António Costa, em maio de 2018, foi o primeiro líder político português, a colocar este tema nas quatro primeiras prioridades políticas do nosso país) são hoje um tema incontornável para os cidadãos. E os temas do ambiente (sustentabilidade, educação ambiental, economia circular, transição energética, qualidade de vida) estão no topo das prioridades e preocupações dos europeus e dos portugueses.

É importante realçar que, nos dias de hoje, há famílias que decidem não ter filhos porque acham que o planeta não tem futuro, nem irá garantir qualidade de vida para os mais novos. E que hoje há jovens que trocam o carro pela bicicleta ou trotinete para se deslocarem, sem qualquer desconforto ou sentimento de perda material. Há pessoas que deixam de comer carne de vaca, para, desta forma, contribuírem, individualmente, para a diminuição dos gases de efeito estufa. Há cada vez mais vegetarianos e vegans na nossa comunidade, por opção e estilo de vida saudável, mas simultaneamente com objetivos claros de defesa e proteção dos animais. Temos ainda uma comunidade que não para de aumentar, e que está absolutamente contra as touradas, contra a realização de espetáculos de circo com animais e até contra a caça, outrora, único meio de subsistência dos nossos antepassados.

Será que os dirigentes (locais, regionais e nacionais) dos principais partidos portugueses ainda não perceberam que as novas gerações e nichos significativos das gerações mais velhas, já não querem viver da mesma forma, nem continuar a ser representados por quem não defende, convictamente, as suas prioridades para a nossa sociedade?

O problema do nosso sistema político é que, a grande maioria dos nossos decisores políticos (locais, regionais e nacionais), são os mesmos de há trinta anos atrás, sabem tudo, estão sempre atualizados, e querem continuar a decidir o nosso futuro coletivo com as mesmas opções políticas e erros do passado. No fundamental, já não conseguem reciclar velhas ideias, nem pensar fora da caixa. Têm exatamente as mesmas características e problemas do material que é feito de plástico: São cada vez mais difíceis de reciclar, fazem mal ao ambiente e demoram séculos a desaparecer porque se acham mesmo insubstituíveis.

Mas o problema é que nós sabemos que alguns políticos continuam a deslocar-se em carros de alta cilindrada e a gasóleo, continuam a deitar as beatas no areal da praia, a não separar o “lixo” em casa e, no partido, e a beberem água engarrafada, com embalagem de plástico, nos seus discursos. Claro está, que é exatamente nesses discursos e depois de todos estes comportamentos que nos vão ensinar a salvar os oceanos e quiçá, o planeta.

Este contraste entre o que se diz e o que se faz é tão nítido que dói. E é isto que vai afastando o eleitorado dos partidos tradicionais, pois a maioria dos seus dirigentes ainda não perceberam que a forma de vivermos terá mesmo que mudar.

Para terminar, gostaria de lançar para debate público novas formas de fazer campanhas políticas, garantido a defesa do ambiente, pois os partidos têm o dever de fazer eco-campanhas e a obrigação cívica de promover a sustentabilidade. Permitam-me, por isso lançar publicamente alguns desafios a todos os intervenientes políticos:

- Deveriam repensar no tipo de brindes a oferecer, e trocar os habituais (canetas de plástico, porta-chaves, balões) por frutos da época, dos produtores locais, lápis com sementeiras, e outras ideias que promovam hábitos e práticas saudáveis e sustentáveis, assim como, a economia local;

- Anunciar a eliminação e utilização de materiais de campanha produzidos com plástico, como pendões, brindes, etc;

- Todos os carros de campanha deveriam ser elétricos ou híbridos, para reduzir a pegada ambiental e sensibilizarem os eleitores para a mudança;

- Os folhetos e programas eleitorais deveriam ser divulgados, essencialmente, na sua versão digital. Nas poucas impressões a fazer, não deveriam usar papel plastificado, utilizar o mínimo de tintas e eliminar os ágrafos que complicam ou impossibilitam todo o processo de reciclagem;

- As bandeiras dos partidos, deveriam ser concebidas com reutilização de tecidos e mastros produzidos com o reaproveitamento de restos de madeira dessa indústria;

- Seria importante fixarem um número máximo de outdoors por município, pois o ruído e poluição visual é horrível. Não deveriam colocar outdoors em jardins, nem passeios, nem em locais que dificultem a mobilidade dos peões ou pessoas com mobilidade reduzida, pois o civismo é cada vez mais valorizado pelo eleitorado;

- Em vez dos habituais jantares/comícios, onde se gastam milhões de euros, deveriam optar por divulgar e apoiar financeiramente, através do mecenato, projetos de apoio social e ambiental, exemplares, com o objetivo de darem a conhecer boas ideias que dignificam quem mais precisa e a conservar o nosso meio ambiente, aproveitando estes momentos para apresentar as suas ideias temáticas.

Em Portugal, temos condições para vir a fazer campanhas políticas amigas do ambiente, com um simples acordo concertado entre todos os Partidos Políticos, e sermos um exemplo a seguir no mundo. Temos que revolucionar a forma como vivemos, mas também como fazemos política. Senão, ficaremos como o Miguel Sousa Tavares e o Donald Trump, juntos a dar cabo do planeta.

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