Acordar, levantar, abrir a torneira.

Imagine que um dia acordava, seguia a sua rotina habitual, mas não havia água. Paradoxalmente, na rua, a sua rua, aquela onde vive e onde está a sua casa, estava inundada. O alcatrão desapareceu, os passeios não se viam e os automóveis estacionados estavam quase submersos. Imaginou?

Em todo o mundo, milhões de pessoas vivem em zonas costeiras. Na lista de cidades em risco de ficarem submersas, cinco delas são na Flórida, nos Estados Unidos. Mais de dois terços da costa portuguesa sofre risco sério de erosão. Lisboa pode transformar-se numa espécie de Veneza do Atlântico, com inundações nas zonas baixas da cidade face à subida do nível do mar. Todos sabemos que as nossas cidades e vilas estão sob ameaça das alterações climáticas que afectam o estado do tempo e provocam fenómenos naturais extremos. Dizem-nos para poupar água, evitar utilizar o plástico mas ninguém nos diz, exactamente, o que fazer ou o impacto que medidas pequenas e individuais podem ter na sustentabilidade do nosso planeta.

Continuamos a achar que estamos sozinhos e que se for só eu não vale a pena. Surpreendemo-nos com mais um furacão, ficamos apreensivos com as vidas aniquiladas por uma inundação, sem palavras perante o solo queimado por incêndios devastadores. Sofremos de uma curiosidade natural em relação a estes fenómenos que acontecem um pouco por todo o mundo mas não nos preocupamos muito em saber que medidas estão os governos a tomar para assegurar que o mundo, como o conhecemos, se mantém mais uns anos.

O padrão de consumo e desenvolvimento actual é marcado por um comportamento de consumo pouco sustentável, criando as condições perfeitas para um futuro altamente imprevisível. Em 2017 foram vários os furacões que assolaram os Estados Unidos, com resquícios da sua força e potência a verificarem-se também entre nós. Este é o nosso presente e pode mudar, por completo, a forma como vivemos.

Imagina-se a ir de barco para o trabalho ou a não ter água para o duche matinal?

É nas cidades que mais sentimos os efeitos de alguns fenómenos extremos. Também em 2017 mais de 1.000 pessoas morreram e mais de 45 mil pessoas ficam sem casa por causa de inundações no sudeste asiático. Pensarmos que está longe de nós não vai resultar porque os subúrbios das principais cidades na Califórnia e no Rio de Janeiro também sofreram inundações ou derrocadas pela força da água, a par com incêndios sem equivalente na história que também aconteceram em Portugal. Cape Town, na África do Sul está em seca extrema desde 2015, a Sibéria conheceu esta semana um manto de neve negra, resultado da poluição, os Estados Unidos estiveram submetidos ao um frio extremo, resultado do vórtice polar e, por cá, desde o último Verão, já conhecemos a Leslie, a Helena e o Gabriel, tempestades que provocaram estragos, acompanhadas de temperaturas a rondar os 40 graus em Setembro ou ventos e agitação marítima a fazer manchetes e a deixar avisos laranja e vermelhos por todo o país antes do Natal.

O Thwaites é um glaciar no leste da Antártida que está a derreter mais depressa do que o previsto. É duas vezes o tamanho de Portugal e, quando derreter na totalidade, vai fazer subir o nível das águas em 80 centímetros. O que quer isso dizer? Nada. Excepto que já se pensa fazer uma barreira marítima para conter a água. Um muro no fundo do mar com 150 quilómetros e 300 metros de altura. Assim já parece importante, não é? Voltemos à ideia da água pelos joelhos à nossa porta ou da torneira sem água…

Todos somos responsáveis pelo modo de vida pouco sustentável que temos e todos somos afectados pelas suas consequências, pelo que está na mão de todos fazer alguma coisa para nos aguentarmos neste mundo mais uns tempos. O tempo parece infinito mas é relativo e, principalmente, absolutamente finito e, da mesma forma que foram os mais novos que ensinaram aos pais o que era isso da reciclagem, são também os miúdos de hoje que nos vão dizer o que fazer: o movimento começou na Suécia e está a espalhar-se a todo o mundo. Comunicam através das redes estão a mobilizar-se em torno de um movimento pelo clima que quer chamar a à atenção de Governos e governantes para a importância de agirmos enquanto é tempo. Planeiam uma greve como forma de protesto, inspirados em Greta Thunberg, uma jovem sueca que protesta pacificamente há mais de 25 semanas em frente ao parlamento sueco e já foi ouvida no Fórum Económico Mundial de Davos. Faltar às aulas é apenas o pretexto para serem ouvidos sobre aquilo que todos sabemos e queremos ignorar: a crise do clima e, principalmente, a urgência de medidas como a aposta séria nas energias renováveis, a monitorização da água dos rios e das descargas tóxicas, multas e impostos mais elevados para empresas que poluem mais, medidas que não implementamos lá em casa mas que o Governo pode, rapidamente, adoptar.

No dia 15 de Março  acontece a greve estudantil pelo clima em várias cidades de Portugal, uma espécie de ultimato, semelhante ao ultimato que cerca de 100 cientistas de 40 países diferentes, com base em 6.000 estudos científicos fizeram, no mais recente relatório das Nações Unidas que nos diz, tão simplesmente isto: ou mudamos, ou em 12 anos o mundo muda. E não vai ser para melhor.