Já faz bom tempo que Neymar Jr. vem deixando muito a desejar entre as 4 linhas. Não bastasse o erro crasso de ter trocado o Barcelona pelo PSG - um time [equipa] sem tradição na camisola, fadado a ser grande demais para a França e desmedidamente acanhado para a Europa -, as sucessivas lesões permitem entrever uma vida no mínimo desregrada. Muito mais do que a ponta da chuteira dos defensores adversários, as baixas ambulatoriais têm mais a ver com o desmazelo para com a carreira, o que é uma enorme e milionária pena.

Para acrescentarmos a essa desdita, a despeito de ter muito dinheiro nas contas, eis que agora enfrenta mais um problema com a Justiça, que se somará aos contratempos fiscais que levam o seu pai e procurador a acertos de contas periódicos. Desta feita, o dossiê é menos prosaico. Na falta de ler um livro, Neymar passa enorme tempo a navegar no Instagram. Lá foi fisgado por uma conterrânea com quem trocou correspondência digital, toda esta recheada de fotos em que a moça aparecia em trajes mínimos, isso quando vestida.

Ora, foi a partir daí que a história conheceu desdobramentos. Pensemos bem: o que custa a Neymar convidá-la a ir a Paris com estilo e alojá-la num hotel da Étoile? Tanto quanto um prato de peixe com arroz para o comum dos mortais, não é mesmo? Assim, tendo designado um operador logístico para a missão de recebê-la, lá foi ele como um passarinho a caminho do alçapão. O que quer que tenha acontecido entre as 4 paredes - e não parece que tenham se reunido para rezar -, eis que o jogador agora está sendo processado por estupro ou violação.

Tendo voltado para o Brasil de posse de imagens em que pretende retratá-lo como um bêbado voluntarioso, e que portanto teria praticado com ela o chamado sexo sem consentimento, a visitadora deve ter sido surpreendida com a divulgação da prosa entre ambos, inclusive a da sequência da noite fatídica. Mas tal desdobramento parece que já estava no cálculo dos seus aliciadores que, diante do facto, estão processando Neymar por difusão pública de imagens íntimas, na tentativa que fez o jogador de ganhar a opinião pública e de se livrar de um hashtag degradante.

Que ela deverá levar alguns milhões no bojo do processo, isso está fora de dúvida. A Justiça nessas horas mais se preocupa com a distribuição de renda do que com o estabelecimento da verdade. O que remanescerá no coração de quem ouviu a fala dele, contudo, é a perplexidade com a indigência do palavrório usado na abordagem. Um tartamudear repetidamente "muito ruim, muito triste" - como se outra coisa não lhe ocorresse.

Se isso está precificado - jargão financeiro para aquilo que já é o esperado - no mundo da bola brasileiro, há de se deplorar muito o destino melancólico desse pobre menino rico. Tão emparedados vivem ele e os de sua condição no claustro invisível de uma brasilidade suburbana, que, não importa onde estejam, os expedientes provincianos os perseguem. Como se não bastassem as aproveitadoras que grassam no meio, vai ele escolher uma mulher dessas que espalham câmaras em todos os ângulos do quarto, pensando em dali sair para a fortuna.

Por fim, deve ser desesperador para quem faz milhões de pessoas vibrarem em todo o planeta com as suas peripécias entre 4 linhas - onde, apesar de tudo, ainda é um prodígio -, saber que essa mesma gente o ridicularizará pelo momento em que ele esteve entre 4 paredes, onde cedeu a armações tão primárias. E que - o que é pior - sequer a gratidão sincera de uma mulher conseguiu ter.

O que será isso? Seria esta a mesma solidão abissal de Elton John em "Rocketman" ou a de Mercury em "Bohemian Rhapspody"? Pode ser. Só que com menos poesia, sem drogas ou álcool, mas com imenso mau gosto. A verdade é que aprendemos muito com nossos erros. Mas não podemos só aprender com nossos erros. Pois quando assim é, a vida não perdoa e nos embosca cruelmente. Se ao menos ele passasse menos tempo no Instagram. É levantar de novo, Neymar. E saber que cabeça é para pensar.