Sex and the City nunca foi uma série da minha eleição, mas reconheço a importância que teve para milhares, se não milhões de pessoas no planeta. Envelhecer também não faz parte da minha lista de coisas preferidas, contudo a inevitabilidade biológica é o que é, aceitemos e sigamos em frente. Importa talvez ter talento para viver. Sex and the City chegou ao cinema e agora regressa com um novo formato, intitulado And Just Like That (estreia em Dezembro, na HBO). Qual a pior crítica? As actrizes estão envelhecidas. Queriam o quê? Isto não tem solução e a ironia é que se uma mulher faz plásticas é condenada e maldita, que estupidez, o que foi ela fazer à cara?; se assume a sua idade perde pontos de uma forma ofensiva.
A maneira como a sociedade encara as mulheres de 50 e mais anos é tortuosa. Há dias, numa reunião por Zoom senti, felizmente pela primeira vez, que era fácil ser descartável por ter a idade que tenho. Uma mulher loira de 50 anos, pós-menopausa, quem precisa dela? Claro que isto foi uma reunião sem qualquer importância, embora o sentimento não diminua.
Sarah Jessica Parker, a icónica Carrie da série norte-americana, pergunta-se: “Eu sei como sou. Não tenho escolha. O que posso fazer a este respeito? Parar de envelhecer? Desaparecer?” A nova série aborda a questão do envelhecimento e, claro, fala de sexo. Os produtores e argumentistas garantem que não há um rejuvenescimento das personagens. A verdade é que pouco, ou nada, se fala das mulheres com mais de 50 anos e da sua sexualidade.
Pergunta: uma mulher, depois dos 50 anos, deixa de ter utilidade? A biologia não nos serve bem. A função reprodutiva acabou e, assim, o interesse esmorece. Poucas são as pessoas que consideram a idade uma excelência. Pouquíssimas encaram as rugas dos outros com bonomia. Uma mulher é sempre fácil de atacar. Em todos os meios. Na cultura, na política, no sector empresarial e por aí fora.
No cinema, as grandes actrizes lutam há anos para ter bons papéis e papéis principais que se ajustem à idade.
Um estudo recente analisou os filmes com melhor bilheteira na Alemanha, França, Reino Unido e Estados Unidos da América. Intitulado “The Ageless Test”, o estudo concluiu que mulheres com mais de 50 anos têm maior probabilidade de ser escolhidas para papéis secundários, muitas vezes descritos como solitários e depressivos. Em vez de interpretarem personagens com vidas entusiasmantes e sólidas, servem apenas de “âncora” narrativa para os restantes actores, obviamente, mais novos.
Na HBO podem ver uma série que relata este infortúnio feminino – chama-se Feud. E não é apenas sobre a rivalidade de duas grandes actrizes – Joan Crawford e Bette Davis, é sobre o que a indústria cinematográfica faz às mulheres conforme estas envelhecem (Jessica Lange e Susan Sarandon têm interpretações excepcionais). O retrato refere-se à década de 60 do século XX. Pelos vistos, nada mudou. Sarah Jessica Parker tem razão, estavam à espera do quê?
Comentários