Até sexta-feira, Lisboa vive a “loucura” da Web Summit. São cerca de 70 mil pessoas que se juntam para discutir tecnologia. A tecnologia é uma das áreas com maior índice de empregabilidade. Trata-se de uma fatia do mercado de trabalho que tem a reputação de ser bem paga, com garantia de futuro.
Durante muito tempo, a tecnologia era um “clube fechado” de rapazes, porventura em virtude de as mulheres terem menos apetência para certos estudos, entre eles as engenharias e programação. O mundo mudou e, felizmente, as mulheres existem hoje na área da tecnologia, com fulgor e provas dadas. Apesar do percurso e das melhorias no sector, o verdadeiro resultado de uma pesquisa sobre a realidade das mulheres na tecnologia, que a organização da Web Summit deitou cá fora, revela que… não me digam que se surpreendem!, a paridade não chegou para estes lados, como não chegou a outros.
O estudo intitula-se, numa tradução livre, “O estado do género – equidade na tecnologia”. À procura da igualdade, os resultados mostram que estamos aquém. A maioria das mulheres inquiridas, 70,4%, tem entre os 25 e os 44 anos de idade e 78,5% trabalham na Europa. Quase metade destas mulheres afirma que foi alvo de sexismo (49,5%). Mais do que estas, 66,9% consideram que ganham pior do que os colegas homens. Pressionadas a escolher entre a carreira e a vida familiar, 62,9% assumem que a conciliação é complexa e motivo de pressão. Além de outras variáveis, as mulheres que participaram nesta pesquisa – 92,4% – não duvidam da qualidade do seu trabalho, da capacidade de o executar, embora cerca de 70% digam o que tantas outras mulheres, em outras actividades, evidenciam: precisam de trabalhar mais para provar que são capazes, portanto são julgadas por serem mulheres.
Analisando o exercício da política, mais de 44% acreditam que os governos não fazem o suficiente para garantir a equidade. E 71,5% das mulheres consideram que o maior desafio que existe, na área da tecnologia, é o combate ao preconceito de género. E, para finalizar, sublinho que, numa nota positiva, 81,4% acreditam que as empresas onde se inserem apoiam a diversidade, a inclusão e a equidade.
Muitas vezes, oiço dizer que estes estudos não adiantam muito, são números. Não são só números, expressam uma realidade que, infelizmente, deveria ter efeitos na forma como entendemos a posição das mulheres, no mercado de trabalho. A indústria da tecnologia gaba-se de ver o futuro, por isso este estudo mostra que o futuro ainda tem de se aprimorar, reconhecer que a força e capacidade das mulheres é uma mais-valia. Como em todas as outras áreas de trabalho, mais perto ou menos da ciência e da tecnologia, as mulheres são uma força especial, porque pensam e sentem o mundo a partir de uma outra realidade, uma outra história.
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