A média das previsões, muito convergentes, na última segunda-feira, quando por força da lei ficou apagada a possibilidade de divulgação de dados de sondagens sobre a escolha dos espanhóis, dava o Partido Popular (PP), claramente vencedor com, no intervalo médio, 142 lugares (34% dos votos, 41% dos deputados nas contas do método de Hondt), mas longe dos 176 que significam maioria absoluta.
Essa média de dados na segunda-feira colocava o bloco das direitas (PP+VOX), com 170 a 180 deputados, portanto, com probabilidade de maioria absoluta, num quadro em que o PSOE aparecia a uns 30 deputados do PP, em que o Sumar tinha ligeira vantagem sobre o VOX e os partidos nacionalistas (chegados às esquerdas) rondavam os 30 deputados.
A primeira semana de campanha (9 a 16 de julho), tinha corrido muito bem ao PP, com o líder, Alberto Nuñez Feijóo, a ser dado como claramente vencedor do duelo de debate com o líder do PSOE e chefe do governo, Pedro Sánchez.
Agora, nesta última semana de campanha, a perceção inverteu-se: instalou-se a perceção de tudo a correr bem para o chamado bloco progressista, encabeçado por PSOE e Sumar, enquanto nas direitas VOX consolidou posições e o PP, apesar da euforia de muitos apoiantes, estive menos visível, e tem sido comentado como com menos fôlego.
A ocasião principal desta última semana de campanha foi o debate na noite de quarta-feira na RTVE. Foram convidados os líderes dos quatro principais partidos, mas Feijóo, do PP, não quis participar. Está a ser genericamente reconhecido que foi um erro, com custos por avaliar.
Feijóo está a passar pela acusação de ter medo, por um lado de aparecer emparceirado com Abascal do VOX, por outro, de enfrentar acusação incómodas (há o caso da amizade antiga com um narcotraficante galego, é história antiga mas que foi ressuscitada na ponta final da campanha, com vários episódio do tipo vale tudo).
Ao faltar ao debate, que decorreu em tom civilizado e esclarecedor – nada que ver com o agreste cara a cara -, Feijóo deixou espaço aberto para que Abascal saísse deste um contra dois com imagem mais institucional, incisivo mas contido, que pode permitir-lhe recuperar votos que estavam a escapar do VOX para o PP.
Por outro lado, ao optar pela ausência, Feijóo não teve como contraditar Sánchez e Yolanda que apareceram hábeis e bem sintonizados a argumentar. Este debate serviu para no bloco progressista ou das esquerdas Yolanda Diaz aparecer com um discurso que coloca a liderança do Sumar (que ela encabeça) numa área mais próxima da social-democracia escandinava, afastada do radicalismo esquerdista que tinha o Podemos.
O líder do PP encabeça quase todas as sondagens (exceto a sempre divergente do CIS) e não quis arriscar entrar em outro debate depois de ter ganho o primeiro. Talvez venha a arrepender-se desta estratégia.
O PP está destinado a ser o claro ganhador destas eleições. Mas a vitória pode ser insuficiente para governar Espanha se o bloco progressista (PSOE + Sumar + nacionalistas) conseguir chegar aos 176 eleitos.
Esta eleição, mantendo as direitas perto de chegarem ao governo de Espanha, evoluiu de modo que configura quase todas as possibilidades: maioria absoluta das direitas, parlamento bloqueado e a pedir nova eleição ou mesmo uma heterogénea maioria progressista.
Porquê o VOX?
O VOX enfrenta o risco de ser prejudicado pelo voto útil no PP por muita gente das direitas da Espanha castelhana que recusa a ideia de ver o seu país como federação de nacionalidades.
A oferta programática do VOX atende muito dos medos de quem, com âncoras na tradição, receia discursos e práticas sobre direitos vanguardistas e liberdades. É o caso de algumas famílias tradicionais que não querem ouvir falar de minorias de género, de casamento homossexual, de multiculturalismo progressista, de sociedade sem fronteiras ou de eutanásia. São pessoas que recusam mudar de vida por causa das alterações climáticas que negam. É gente para quem as iniciativas independentistas catalãs catalisaram o nacionalismo espanhol, com expressão restritiva.
O VOX – tal como o Chega em Portugal - responde ao vazio de quem se sente zangado com o quadro político e social existente e que quer ver levantar essa voz de rejeição.
As sondagens mostram que muito do voto VOX está em gente com idade entre os 18 e os 44 anos – é um segmento que não está marcado pela memória histórica das rudezas do tempo de censura do franquismo.
O mais forte crescimento do VOX em regiões do sul de Espanha também passa por mudanças substanciais na paisagem humana, traduzida em territórios com alta densidade de migrantes com cultura que não só choca com parte dos autóctones como suscita sensações de insegurança. O discurso do VOX aparece como um refúgio para essas pessoas.
Santiago Abascal, agora com 47, pertenceu às juventudes do PP. Deixou em 2013 o partido tradicional da direita espanhola para fundar o VOX, com ideário ultraconservador, ultraespanholista, antifeminista, negacionista da violência de género, antieuropeísta e também anti imigrantes. Foi também antivacinas.
O líder do VOX combate vigorosamente a evolução autonómica do Estado espanhol. Esta é uma das questões que certamente contam, a favor e contra, em muito voto deste domingo. Com Santiago Abascal a desejar um resultado que lhe permita ser vice-presidente no governo do PP Alberto Nuñez Feijóo.
Mas a evolução do cenário político espanhol está a colocar muita incerteza sobre o resultado destas eleições.
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