Na verdade, ainda que me sinta jornalista há mais de 30 anos, não me identifico nem me revejo nos debates que vou acompanhando, quase sempre enviesados pelas situações particulares de quem fala. Gostava que os jornalistas “de sucesso” do momento não fossem tão infantilmente optimistas, só porque têm um emprego ou porque dirigem jornais que ainda vendem qualquer coisa - como gostava de ver menos queixume naqueles que se sentem precários, mal pagos e sem horizonte.

Nem uns nem outros estão certos no diagnóstico - e vamos vê-los em posições inversas mais depressa do que eles próprios pensam. Por mim falo, que não atribuo ao mercado nem aos grupos de comunicação o afastamento dos últimos anos - mas sim, e infelizmente, àqueles que, por julgar bons, achei que não tinham medo. E afinal tinham, e ficaram de telefonar “na semana que vem”…

Aliás, foi por causa desse afastamento que me vi forçado a entregar a minha Carteira Profissional, para poder trabalhar em áreas teoricamente vedadas aos jornalistas - e, ironicamente, foi esse estado de coisas no jornalismo que me impediu de participar activamente neste Congresso, que não teve em conta realidades como estas e deixou de fora todos os que não possuíam “título profissional válido”. Ou seja, quem foi forçado a fazê-lo por manifesta necessidade de sobrevivência e falta de alternativas no mercado, ainda recebeu por cima o carimbo de “marginal” ou “dispensável”…

O jornalismo vive no medo não por causa do novo mundo - mas por causa de si próprio e das suas inseguranças. Enquanto assim for, todos os debates são viciados à nascença e os congressos servirão apenas para encontrar os eternos bodes expiatórios que servem uma classe mais preocupada com a desculpabilização do que com a afirmação.

Não consigo alinhar, lamento.

(Crónica originalmente publicada no blogue Pedro Rolo Duarte)

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