O formato dos debates dificulta que alguém sobressaia com brilho. Mas deu para a candidata Marianne Williamson, guru espiritual e autora de 13 livros de auto-ajuda, declarar que a primeira-ministra da Nova Zelândia é a política que tem como modelo – Jacinta Ardern impôs, em apenas uma semana após as matanças em Christchurch, radical limitação à venda de armas no país. 

Ninguém se impôs de modo arrebatador nestas primeiras rondas. Duas mulheres marcaram pontos: Elizabeth Warren e Kamala Harris. O líder até agora nas sondagens, Joe Biden, 76 anos, ex vice de Obama, encarna o aparelho tradicional do partido e saiu-se mal no confronto com quase todos os candidatos. Apareceu sobranceiro, falhou a criação de empatia que é essencial numa prova como esta.

Os dois debates foram polidos, em atmosfera cordial, com ataques políticos mas sem ataques pessoais, com os candidatos a disporem de tempo escasso mas sem serem ou quase sem serem interrompidos. Deu para perceber entre que margens se movem e o que há a esperar da candidatura que vai enfrentar Trump em Novembro do ano que vem. Curiosamente, com agora 20 candidatos em debate, o partido Democrata pareceu mais coeso nas propostas e com menos divisão ideológica do que há quatro anos, quando tinha apenas dois candidatos, Hillary e Sanders.

Desigualdade económica, imigração, acesso ao sistema de saúde, controlo de armas de fogo, alterações climáticas, aborto, polarização política, Irão e Donald Trump foram os temas mais aflorados, mas sem que algum deles tenha sido esmiuçado. Foram debates, sobretudo para mostrar o perfil e as ideias âncora de cada participante.

Para além de Biden, também um peso pesado, Bernie Sanders, da ala mais à esquerda, e Beto O’ Rourke, o texano tecnológico, com fama de forte entre os latinos e os jovens são dados como perdedores nesta ronda de debates em Miami.

Seguem-se uma outra idêntica ronda com dois debates a 10, no final deste julho, em Detroit. Então, vai haver focos reforçados sobre Kamala Harris e sobre Elizabeth Warren, as duas candidatas que mais se impuseram em Miami.

Kamala Harris, 54 anos, filha de pai jamaicano e mãe indiana, actual senadora pela California, depois de ter sido procuradora-geral, é uma das vozes progressistas no partido Democrata, embora sem alinhar na ala mais esquerdista simbolizada por Bernie Sanders. Mostrou no debate o discurso incisivo que tem exibido no Congresso a combater a política anti-migratória de Trump. No debate em Miami, Kamala liderou o confronto com Biden ao expor o escasso esforço dele na integração de grupos étnicos, enquanto o modelo seguido na California é considerado de grande sucesso. Kamala aspira ser a primeira mulher e de cor a chegar à presidência dos Estados Unidos. Parece ter possibilidades.

Elizabeth Warren, 69 anos, senadora pelo Massachussets e professora de Direito em Harvard é uma histórica do partido Democrata. O modo como tem criticado asperamente as políticas de Donald Trump coloca-a como favorita da ala esquerda, suplantando até, pelo pragmatismo, Bernie Sanders. Tem contra ela a etiqueta de fazer parte da elite académica e a hostilidade da ala mais conservadora. Warren marcou pontos no debate de Miami com a defesa que fez da introdução do seguro universal de saúde garantido pelo sistema público.

Surpreende que questões como Cuba ou a Venezuela não tenham passado por esta ronda de debates na terra latina de Miami, sendo que a importância do voto de mais de 40 milhões de hispânicos nos EUA levou a que três dos 20 aspirantes tenham optado por dar algumas respostas em língua castelhana.

Para além de Kamala Harris e de Elizabeth Warren, os aspirantes Pete Buttigieg, 37 anos, veterano de guerra no Afeganistão e gay, e Julián Castro, 44 anos, um hispânico que foi ministro do Trabalho no governo de Obama, também mostraram protagonismo que os coloca debaixo de olho para os próximos debates.

Mas os republicanos e a gente de Trump devem ter ficado aliviados com esta primeira ronda de debates no campo adversário. Não apareceu nada de retumbante, nem nas ideias, nem no estilo. A campanha já começou, mas ainda falta quase ano e meio para a eleição presidencial em que votam os cidadãos dos EUA, mas em que poderia fazer sentido também haver uma percentagem de voto do muito inteiro.

VALE VER:

O naturalista mais de cabeceira no mundo, David Attenborough, 92 anos de idade e mais de 60 a aparecer nas televisões pelo mundo, também foi estrela no mítico festival de Glastonbury. O festival foi vivido em euforia, também mostrada nestas imagens.

A formação do governo de Espanha, encabeçado por Pedro Sánchez, está encravada. O líder socialista continua a recusar que o governo seja de coligação e até já se fala em novas eleições.

Poesia de Verão em Haiku.

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