Calem-no, se faz favor, já chega. Um chefe de Estado não tem de falar todos os dias. Não precisa de se pronunciar sobre tudo e mais alguma coisa. Ou será que sim? Será que Marcelo precisa das luzes da ribalta, sofre de síndrome de privação, sempre que um microfone se afasta ou uma câmara de televisão escolhe outro sujeito? 

Desvalorizar o número de denúncias de abuso sexual por membros da Igreja, dizer que 400 casos não é muito, e que em outros países são aos milhares, é dizer que nada disto importa, que é tudo relativo. Respeito o facto de o presidente da República ser católico, não me incomoda, é a sua fé. Não consigo é entender a sua postura face a esta questão das denúncias, mas também não o entendo em outras matérias, como o aborto. A fé não deve limitar-nos, não nos condiciona o pensamento. Pelo contrário, promove ideias e debates, dúvidas e outras perspectivas. Além disso tem por base uma coisa única, singular, preciosa: a condição humana. Não é a medida da humanidade vista pelo copo de medidas que é aceitável, 300 gramas disto, cem daquilo, só porque a receita da Igreja o diz. A vida não se pode prender a dogmas. A liberdade importa, a dignidade também.

A Igreja Católica está a viver um tempo de ataque, dirão. Não está. A questão dos abusos não é nova, a Igreja nunca esteve imaculada, isenta de falhas. O nosso chefe de Estado parece não conseguir perceber que o silêncio é de ouro, em algumas coisas,  e ensurdecedor em outras. Não se pode dar opiniões só porque sim. Não se pode ter uma união corporativista com uma instituição que, tendo o bem-estar do ser humano por base, sempre viveu com a fragilidade moral dos que pretendem manter status e poder. O poder não faz dos homens mais livres, pode fazê-los inconvenientes, por exemplo. Marcelo ilustra bem isso.