Bens essenciais, pessoas de bem, bem comum. De repente, estamos afogados em bondade ou putativa bondade e em discursos que, na sua essência, parecem cheios de boas intenções – boas intenções, lá estamos – e de uma sabedoria imensa.

Não tenho grande empatia por discursos ideológicos cheios de mezinhas e queridices. Quem define o que são pessoas de bem? Para mim serão umas, para vós será outra coisa? Pode ser, ou então teremos de balizar e entender que pessoas de bem são aquelas que não são desonestas, que trabalham e pagam impostos, que tratam de forma civilizada os outros, incluindo o planeta, que não fazem mal a uma mosca nem atiram lixo para o chão.

Quando um candidato presidencial se refere a pessoas de bem, na sua cartilha, a lógica parece outra: pessoas de bem são as que olham para o Outro com suspeição, que desconfiam e querem manter num gueto outras tantas. Quando um governante considera que os livros não constituem bens essenciais, temos de perguntar o que andam as nossas crianças a aprender, que futuro queremos e se o governo quer, ou não, que a malta saiba pensar. Os livros são bens essenciais, em qualquer lado do mundo, em qualquer época. Não há discussão.

Quando os cronistas deste país escrevem, a torto e a direito, sobre o bem comum e as regras, uns mais adeptos dos confinamentos radicais, outros com teorias de conspiração (há mesmo quem pontifique sobre a denúncia do governo ao Tribunal dos Direitos Humanos), pergunto-me o que será o bem comum para uns e para outros.

Neste momento, para mim, zelar pelo bem comum seria fechar as escolas e as universidades. Não por estar comprovado que os jovens são um grupo de risco, já se sabe que não são, mas porque as escolas e as universidades implicam a deslocação de muitos adultos de faixas etárias distintas. Além disto, também gostaria de lembrar que os cultos religiosos podiam considerar as práticas privadas – ou através das novas tecnologias, para se saudarem na Paz de Cristo –, ou numa outra Paz. Tudo isto seria, para mim, o bem comum. Portanto, a pergunta mantém-se: o que sabem vocês do bem?