Socialmente, somos pressionados para o sucesso. Depois do nome, perguntam-nos o que fazemos (ou o que estamos a estudar). Para quem está a estudar, também os cursos têm associações imediatas, estampadas no rosto de quem pergunta. Para quem está trabalhar, jamais estar desempregado porque isso é o epíteto do insucesso. Estamos entre projetos ou a desenvolver um projeto pessoal. Também podemos ser empreendedores. Para os mais conservadores, isso significa uma de duas coisas: alguém que não sabe muito bem o que faz, que tem ideias para empresas e anda a ver se arranja quem invista, ou os cromos da tecnologia em Silicon Valley, que criam algoritmos esquisitos e os vendem por milhões de dólares.

Ser empresário pode querer dizer que temos, de facto, uma empresa com muitos zeros na conta mas também pode querer dizer que fazemos rissois para fora. Tudo o que pague impostos pode ser uma empresa, pelo que a designação nem sempre é esclarecedora. Verdadeiramente fixe é ter um título bonito numa empresa muito conhecida. Ou ser influencer. Na ausência do título (todos temos de começar de alguma forma, certo?...), o ideal é trabalhar numa empresa cujo nome deixe o outro a pensar  algo como… ‘uau…’ enquanto faz aquele sorriso hipócrita um bocadinho invejoso.

Também podemos ser famosos mas, neste caso, não nos perguntam nada. O resto fica para as pessoas normais, cuja definição nunca passou pela cabeça, vivendo a sua vida imunes a esta prossecução do sucesso que, na maior parte das vezes, associa estatuto, ao poder e ao dinheiro. Um triângulo perigoso facilmente transformável num círculo vicioso em que mais poder significa mais estatuto social, consequentemente mais dinheiro e mais dinheiro quer dizer mais trabalho, menos tempo livre e menos noção.

Noção do que é verdadeiramente importante na vida.

O sucesso és tu e as tuas conquistas, essas que dependem apenas de ti, soa a frase feita, dos livros de auto-ajuda que em nada ajudam. Na verdade, o sucesso não depende apenas do indivíduo, ou do seu esforço, mas da medida de sucesso que criou para si e que pode ser tanto a conquista de um título profissional como algo do foro íntimo e pessoal. Na generalidade, entendemos o sucesso em associação direta ao desempenho profissional, como se cada um de nós se definisse pelo trabalho remunerado que tem. Se é certo que nem todos queremos, podemos ou conseguimos seguir os nossos sonhos, também é certo que esta definição individual em função de uma profissão, um cargo ou ocupação está muito ultrapassada. Ontem interrompi o meu trabalho a meio da tarde. Larguei tudo, peguei na prancha, atirei-me ao mar e estive meia hora a apanhar ondas, na praia. Quando voltei, estava renovada, cheia de ideias e energia.

Foi o que fiz há algum tempo e não me arrependo. Troquei cargos e poder pela liberdade de poder escolher. Por causa de uma fotografia de prancha na mão, recebi, também, muitas mensagens para responder à eterna questão do sucesso e percebi que, de facto, isto do sucesso é muito relativo e que, dos me escreveram, a maior parte preza valores pouco ou nada relacionados com o dinheiro. A estabilidade e segurança financeiras interessam. Há, contudo, uma nova geração para quem os valores são outros, que não se definem exclusivamente por aquilo que fazem mas pela pessoa que são, e o que podem trazer ao mundo, para quem a liberdade vem antes de um título profissional e para quem, apesar do descrédito que hoje existe nas relações humanas e no amor, aqueles que amam estão em primeiro lugar.

Os tempos mudaram e o sucesso também, muito embora continuem os velhos do Restelo a insistir numa alegoria da caverna que determina regras que servem, apenas, para desafiar, inovando, ou num sexismo agonizante que continua a categorizar as mulheres mais pela sua aparência do que o seu intelecto. O momento é de redefinição total da sociedade e do modo como vivemos, das formas de trabalhar, modelos profissionais e profissões, das relações humanas e sociais, bem como dos valores e, sobretudo, desta noção de sucesso que tanto podem ser 100 mil seguidores num site de rede social e zero rendimento ou 100 seguidores que suportam financeiramente um micro negócio. O que estão as grandes empresas a fazer para acompanhar os tempos?