No Porto, no sábado passado, voltei a conversar com Siza Vieira, agora com 91 anos de idade, e verifiquei que mantém a sua capacidade de analisar o mundo, de encarar os projectos que tem em cima da mesa e de sentir a necessidade de trabalhar. É o trabalho que o alimenta. É, nesse aspecto como em outros, um exemplo, uma inspiração.

Não vivemos tempos fáceis, seja a que nível for. Para onde quer que se olhe, as dificuldades crescem, os conflitos grassam. A arquitectura não é excepção, e Siza Vieira falou comigo longamente sobre as dificuldades, a razão pela qual deixou de fazer obra pública. O seu atelier mantém-se graças a trabalho na China, na Coreia, no Japão.

A um jovem, Siza Vieira dirá que o melhor é escolher outra profissão. Com um certo humor, adianta que outras profissões estão igualmente condenadas. E falámos sobre o domínio do dinheiro, do negócio. O mais importante, o que vinga, é o dinheiro. Fazer dinheiro. Ter dinheiro. Pagar o menos possível.

Para quem anda a estudar e a fazer arquitectura desde os 16 anos de idade, o panorama não é animador. No fim da conversa dei por mim a pensar que a maioria das pessoas que entrevistei, com o gabarito de Siza Vieira, já cá não estão. Em vez de nos preocuparmos em guardar um legado, seguir exemplos, procurar inspiração, limitamo-nos a reconhecer um percurso e a dizer que os tempos são outros. Não são. O tempo é sempre de pensamento crítico, de evolução. E Siza Vieira é exemplo disso. Que a sociedade queira menorizar a importância do pensamento é que aflige.