É um negócio que tem os palcos principais na Europa e público diante de ecrãs, cada vez mais a Oriente. É comandado por investidores americanos, fundos de investimento das petro-monarquias do Golfo, patrocinadores chineses e, entre outros, interesses milionários russos. Em fundo a este negócio estão os suculentos direitos de difusão dos jogos e a exploração da imagem das estrelas associadas, os jogadores e alguns dos treinadores.

Um estudo publicado no começo do ano pela UEFA mostra que um pequeno grupo de grandes clubes que são empresas, estão seis vezes mais ricos que há 20 anos. Esse grupo de elite é sempre o mesmo: Real Madrid, FC Barcelona, Bayern de Munique, Manchester United, Liverpool e Juventus de Turim. O Paris Saint-Germain faz por se juntar, tal como o Manchester City e o Chelsea. O Milão perdeu o estatuto de parceiro no topo. Há outras equipas alemãs, holandesas, espanholas e portuguesas com aspirações, mas o clube de elite fecha-se cada vez mais.

O negócio do futebol parece entrado em perigosa fase de bolha financeira. Até hoje, só houve três futebolistas cuja contratação tenha roçado ou ultrapassado os 100 milhões de euros: Paul Pogba, Gareth Bale e Cristiano Ronaldo. Mas, neste último ano, o pagamento de valores exorbitantes, desproporcionados, tornou-se moeda comum. Pagar 30 milhões por um jovem futebolista cuja classe está por testar com consistência, tornou-se vulgar. Todos vemos transferências multimilionárias em que o jogador contratado acaba por ficar sentado entre os suplentes. Apesar disso, a espiral inflacionista está generalizada.

O Manchester City já vai, neste verão, em 220 milhões de investimento em novos futebolistas (49 milhões para receber o português Bernardo Silva), sendo que 138 milhões foram destinados para defesas laterais: Mendy (58 milhões), Walker (51 milhões) e Danilo (30 milhões por este brasileiro ex FC do Porto e ex-Real Madrid). O Manchester United, de Mourinho, desembolsou 85 milhões pelo belga Lukaku e o espanhol Morata foi transferido para o Chelsea por 80 milhões.

Agora, a notícia de que o Paris Saint-Germain, nas mãos de um multimilionário do Qatar, se dispõe a pagar ao Barcelona a cláusula de rescisão de Neymar, de 220 milhões, desconcerta. É sabido que o valor de mercado corresponde ao que alguém se dispõe a pagar. Mas estas quantidades que o futebol está a movimentar encaixam mal, parecem absurdas. O dinheiro deste anunciado contrato dava para proporcionar soluções que permitissem atenuar a crise dos refugiados, dava para reconstruir lugares que a guerra devastou, dava para que a ONU tivesse meios de que necessita para intervir e ajudar. Até dava para criar vários museus que iniciassem mais gente no gosto pelas artes.

 Há sinais inquietantes. No último ano vimos como os todo-poderosos presidentes da FIFA (Blatter) e da UEFA (Platini) caíram, acusados de benefícios impróprios. Há duas semanas, foi outro patrão do futebol europeu, Ángel Villar, presidente, há 28 anos, da Federação Espanhola e homem forte na UEFA, obrigado a demitir-se, detido e acusado de corrupção continuada.

Ultimamente, viu-se como a China quer tornar-se potência no futebol. Mas a Confederação Asiática acaba de avisar que 18 clubes, incluindo 13 de elite, poderão ser excluídos das competições oficiais por terem salários em atraso aos seus futebolistas. Entre os clubes mencionados estão equipas ambiciosas como o Shangai Shenhua e o Guangzhou Evergrande, que têm contratado estrelas do futebol europeu e sul-americano.

Será que a bolha do futebol asiático está à beira de rebentar? E no futebol europeu? Para além dos 222 milhões de Neymar para o PSG, o Real Madrid mostra-se interessado na nova pepita francesa,  Kylian Mbappé, avançado de 18 anos, por quem o Mónaco, treinado por Leonardo Jardim, faz preço em 160 milhões de euros – o negócio alimenta-se de novidades e o Real entende que precisa de preparar um sucessor para Cristiano Ronaldo, a ficar veterano.

No meio de tudo isto, vários serões televisivos portugueses estão cheios de futebol falado, preenchido com discussões e intrigas em volta dos clubes, jogadas e jogadores, alguns com o único resultado de envenenamento da possibilidade de boa convivência. Quando o que se espera dos artistas, também os do espetáculo de futebol, é que contribuam para mais satisfação na nossa vida.

FAZEM PENSAR:

A vida por entre os mortos: Rashad nasceu, vai para 39 anos, num cemitério no centro de Gaza. Ele, a família e outras famílias, ao todo umas 150 pessoas, continuam a viver por entre as lápides na miséria desta faixa da Palestina.

Jeanne Moreau e Sam Shepard. Moreau, mulher audaciosa, livre, insubmissa, intensa, sedutora,  com espantosa voz nasalada, fica para sempre como a noiva da Nouvelle Vague, está nos mitos do cinema. Shepard, criado na contracultura americana dos anos 60, o cow-boy intelectual, escritor emprestado ao cinema, inspirou Wenders para o Paris Texas. Moreau e Shepard devem ter-se cruzado alguma vez. Partiram no mesmo dia 31 de julho deste ano que está a levar tanta gente grande mas que fica para sempre.

O chefe de comunicação, Scaramucci, dispunha-se a varrer a atribulada Casa Branca de Trump, afinal, ao décimo dia, é ele o varrido. Em seis meses, já são 12 os colaboradores de topo afastados do círculo em volta do presidente. Quem se dispõe a entrar para aquele caos? Agora, há um marine, o musculado general Kelly, que parece capaz de pôr alguma ordem naquela que parece uma nave de loucos.

demonstração de força político-militar feita pela China será também um alerta para Trump?

pessimismo de Ai Weiwei.

Três primeiras páginas de hoje, cheias com o rosto de beleza sensual da mesma anti-estrela: estaesta e esta.