Não faço a mínima ideia como cheguei a casa.
Uma coisa é certa, devo ter saído de maca.
Vim de Uber? Vim de táxi? Num foguete da NASA?
Que mais poderá justificar esta ressaca?

Quero ficar no quarto, como quando tive sarampo.
Não quero viver num mundo liderado por Trump.
Tenho as costas marcadas, pudera, dormi de camisa.
Será que ainda sei de cor o número da Telepizza?

Caí em algum lado? É que me doem muito as ancas.
A partir de hoje sou racista com bebidas brancas.
‘Tá tudo fechado, onde é que compro Ben-u-Ron?
A única loja aberta hoje aposto que é maçom.

Óbvio que não devia ter bebido tanta Schnapps.
Quanto dinheiro gastei? Cheguem-me a Casio!
Eu juro, eu juro. Compensarei todos estes lapsos.
Eu juro, eu juro. Começo amanhã no ginásio!
Mas hoje meu cérebro explode, não há sinapses.
Chamem um neurologista, um António Damásio!

Quem me manda a mim, beber como um alarve?
Fumei dois maços, agora passas do Algarve.
Profanaram o meu corpo, minha alma não é sã
Expiarei meus pecados através do Guronsan?

Alguém que me explique esta ressaca infernal!
Porque é que eu acordei à hora do Telejornal?
Porque é que eu não encontro um healthy middle?
Já não tenho 15 anos, justifica-se vodka do LIDL?

Vou vomitar, é certo, lamento, e preciso de água.
É que hoje é bar aberto de sofrimento e mágoa.
Compreendo, isto já parece queixume de avós,
Mas pedia-vos que baixassem o volume da voz.

Vocês sabem como é que a ressaca arrasa.
O que pesa mais? Cabeça? Consciência?
Doravante, prometo, opto pela abstinência.
É que não aguento estes olhos em brasa.
O André Gomes não devia ter saído do Valência,
E eu não devia ter saído de casa.

Recomendações

O documentário (Dis)Honesty, the truth about lies, uma horinha e meia para perceber porque é somos todos uns petas. Disponível na Netflix.

Poucos planos superam uma noite de comédia, pelo que não devem perder o espetáculo Bon Vivant Live, o solo de Carlos Coutinho Vilhena. Em Lisboa e no Porto.

Noam Chomsky é um cota com quem os millennials gostam de se identificar. Vale a pena ver Requiem for the American Dream, uma série de entrevistas sobre a desigualdade. Onde? Na Netflix. Juro que não sou patrocinado, simplesmente não tenho amigos.