A minha pergunta é para os políticos deste país. Para todos os políticos, da esquerda à direita, feridos e tristes com os resultados das eleições, vitoriosos e teatrais, sérios e adeptos de uma ideia de serviço público que porventura estará em desuso, para os melhores e para os piores. E ainda para os que estão no Governo, subsecretários de Estado, secretários de Estado, ministros, ministros-adjuntos e, claro, o primeiro-ministro. Os deputados e os líderes. O que as eleições de domingo passado nos dizem é que não estão a cumprir o Vosso dever ou aquilo a que se propõem, quando ocupam um lugar público. À esquerda e à direita há problemas sérios. As pessoas não estão contentes convosco. Talvez não vos entendam. Ou talvez vocês façam apenas parte daquele plural – “eles” – anónimo, que temos a mania de introduzir nas conversas, quando nos queixamos do sistema educacional, cultural, económico, judicial.

Este país – ah, tínhamos tudo para ser um país, como diz uma amiga minha – tem uma democracia jovem, não celebrámos sequer 50 anos de Liberdade. Não podemos ter pervertido o jogo político ao ponto de as pessoas não vos poderem nem ver, não acreditarem no que lhes dizem, não fazerem sequer um esforço, para abarcar a complexidade da tarefa que terão em mãos, seja em que sector for. Tenham paciência, há algo que está mesmo muito mal.

Façam uma reflexão. Como será quando tivermos de aprovar o próximo Orçamento de Estado? Que candidato haverá em que possamos acreditar? Como será o nosso futuro? Daqui a dois anos nas legislativas, daqui a cinco nas presidenciais. Pensem como querem que seja o futuro deste país. E se a sociedade civil se mantém numa espécie de marasmo, só queixas e pouca intervenção (veja-se a abstenção de domingo), pois senhores militantes, malta que está inscrita nos partidos: exijam o melhor dos vossos líderes, não estejam à espera de poleiros e de um poderzinho da treta, façam pelo nosso país, tenham uma perspectiva de futuro, trabalhem a favor do país. Discutam as matérias, as opções, as alternativas. O que propõe o senhor A exactamente? E o senhor B? E que implicações têm essas propostas realmente? E quanto custam? Enfim, façam o vosso trabalho.