Foi lançada a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, segundo a qual os países se comprometeram a tomar medidas “ousadas e transformadoras” para promover o desenvolvimento sustentável, “sem deixar ninguém para trás”. A Agenda 2030 “é um plano de ação para as pessoas, o planeta e a prosperidade, que busca fortalecer a paz universal, com 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os ODS, e 169 metas desenhadas para erradicar a pobreza e promover vida digna para todos, dentro dos limites do planeta”.

As aspas no texto são necessárias, não apenas para respeitar a transcrição literal daquilo que está nos sites oficiais dos ODS, mas também para enfatizar um compromisso que passa muito longe de ser pequeno. A minha preocupação e a minha proposta residem neste ponto.

Desde muito jovem que me envolvo com projetos socio-ambientais, nos últimos 18 anos fazendo-o de forma profissional como consultor, criador ou indutor na criação de programas de combate à pobreza e de proteção ao meio ambiente. A minha carreira levou-me a projetos no Brasil e no exterior e em retribuição tive o privilégio de receber prémios, reconhecimentos, citações internacionais em livros e na media.

Sou extremamente feliz pelo que faço. Mas sou mais feliz ainda, pela possibilidade de desfrutar de um privilégio muito especial: o de conviver com um grupo de pessoas que empreendem e comandam organizações sociais e ambientais; com pessoas que as financiam; com pessoas que trabalham para criar, nas empresas onde trabalham e na sociedade, uma cultura de sustentabilidade e de envolvimento de todos com os nossos mais urgentes problemas sociais.

Para mim, essas pessoas trazem uma qualidade que vai muito além da empatia, muito além da inteligência emocional. Essa qualidade que trazem, eu prefiro chamar de Inteligência Espiritual.

Na minha definição, Inteligência Espiritual é um tipo de inteligência que não está na cabeça, tampouco no coração. Também não tem a ver com religiosidade. Não sei onde ela está, mas a reconheço no brilho dos olhos e na resiliência de cada uma dessas pessoas que fazem do setor social e da sustentabilidade o campo de exercício dos seus talentos. É essa inteligência que faz, delas, pessoas muito especiais.

Acho absolutamente necessários os 17 ODS. Mesmo também achando o horizonte de 2030 perto demais e precipitado para tanto compromisso, não arredo o pé do movimento dos que acreditam.

Vamos precisar de uma nova geração e de uma nova mentalidade. Talvez tenhamos que rever curriculuns escolares, criar movimentos, talvez tenhamos que criar uma pedagogia própria. Não é possível que não seja possível.

Mas tenho a convicção de que nenhum dos 17 ODS será plenamente atingido se não incorporarmos um 18º Objetivo: o de expandirmos exponencialmente uma geração de pessoas espiritualmente inteligentes.

Para o plano funcionar, elas precisarão estar inseridas, em maior número, na alta direção das empresas ou ocupando cargos políticos. Os bons estão aí, mas ainda são em número insuficiente.

Vamos precisar de uma nova geração e de uma nova mentalidade. Talvez tenhamos que rever curriculuns escolares, criar movimentos, talvez tenhamos que criar uma pedagogia própria. Não é possível que não seja possível.

É difícil? É utópico? Se você aceitou o que a ONU disse, que poderemos erradicar toda e qualquer forma de pobreza, inclusive a pobreza extrema, e que não vamos deixar esgotar os recursos do planeta dentro dos próximos 12 anos, não me venha falar em dificuldades ou utopias. Porque aceitar isso significa aceitar que estamos nos enganando ou deliberadamente enganando aqueles que precisam.

Nenhuma dessas hipóteses é inteligente. Especialmente, nenhuma delas é empresarialmente, humanitariamente ou espiritualmente inteligente.