Portugal falhou redondamente o seu primeiro objectivo neste Mundial: que Cristiano Ronaldo não fizesse birra até ao fim da fase de grupos. É lidar e avançar - cabisbaixos - para os oitavos de final, nos quais estamos obrigados a levar o jogo a prolongamento, mesmo que estejamos a ganhar, para que Cristiano tenha mais meia hora para atingir um dos tais recordes que o perseguem.
Por outro lado, esta derrota foi absolutamente essencial para as nossas aspirações, porque depois de vencer o Uruguai estávamos a ficar com a mania. Mais grave do que isso, a doutrina de que Portugal se tinha tornado num dos favoritos à conquista do Mundial estava a ganhar mais seguidores por minuto do que o Instagram da ex-miss Croácia. Nesse sentido, perder com a Coreia até calhou bem: presunção e Paulo Bento, cada qual toma o que quer.
Pessoalmente, acho que a generosidade de permitir o apuramento ao adversário nos ficou bem. Apesar das duas derrotas em Mundiais, não devemos ter nada contra a Coreia do Sul: tanto os portugueses como os coreanos fazem parte de um país commumente confundido com um maior (Japão / Espanha), ambos apreciamos grelhados e música de qualidade duvidosa. Nós temos o pimba, eles têm K-Pop. Para cimentar uma aliança, não seria de excluir criarmos conjuntamente um género de fusão entre os dois estilos musicais, futuramente popularizado por um putativo artista adolescente de fama planetária chamado Seoul Ricardo.
O jogo foi chato: Fernando Santos não jogou no risco; Paulo Bento tem risco ao meio. Com tanta rotação, Portugal decidiu jogar ao ralenti, pelo que estávamos só à espera que a estrela da equipa adversária decidisse baixar uma mudança na manete do seu Son-Mobile. O desfecho do jogo não foi imprevisível: os asiáticos são conhecidos pela fiabilidade dos seus automóveis e Portugal, enfim, estava ali com problemas na Coreia de distribuição.
Já apurados para os oitavos, apresentámo-nos neste jogo com o mesmo entusiasmo de um jovem adulto que tem de ir a um almoço de família no dia seguinte à sua intoxicante festa de aniversário com os amigos. O problema é: com jogadores que tangenciam os 40 anos, Portugal não sabe lidar com ressacas. Da última vez que tive uma ressaca, levei com um banho de água fria e curei-a. Já Portugal, levou com um balde de água fria da Coreia. É ligeiramente diferente. A idade não perdoa.
Este jogo serviu também para descobrirmos uma nova faceta de Cristiano Ronaldo, demonstrada no canto que resulta no empate. Na antevisão deste Mundial, vários analistas previram que Ronaldo fosse atrapalhar o processo ofensivo da seleção. Mas Ronaldo surpreendeu tudo e todos e atrapalhou também o processo defensivo da seleção. Incrível, não há nada que o homem não consiga fazer. Há até uma evolução: antes, Ronaldo borrifava-se para o processo defensivo; hoje, activamente sabota-o. Aos 37 anos, é notável a capacidade de reinvenção.
De resto, tem-se comentado a reação de Cristiano ao ser substituído aos 65 minutos (um minuto, diga-se, perfeitamente razoável para se ser substituído). Contudo, há algum exagero nas críticas ao capitão. Ok, Ronaldo murmurou "estás com uma pressa do c****** para me tirar, f***-se!", é certo. Porém, Ronaldo em momento algum disse "estás com uma pressa do c****** para me tirar, f***-se! Ah, e, já agora, o Hitler não era mau gajo". Logo, dentro de todos os ídolos deste milénio que não estão a saber lidar bem com a meia-idade, foi o que se portou melhor nas últimas 24 horas. Olha, mais um recorde.
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