“Ai, Diogo!” – espanto, resignação com uma ponta de decepção – “Outra?! Não tens namorada, não casas, não tens filhos e só fazes isso!” – disse a a minha avó ao olhar para a tatuagem nova que envergo ao peito, agora mesmo no momento em que escrevo isto. Faltou acrescentar no topo disso tudo que não tenho um trabalhinho a sério, mas creio que – apesar do medo da instabilidade económica (e mental) – até tem certo orgulho em que eu seja artista de variedades e lá me vá safando a escrever e dizer graças. Das de humor, não das divinas.

Fiando-me por tantos que tanto sabem da minha vida – e se sabem! Não sabem eles sempre tanto sobre a nossa vida? – não era aqui que devia estar. Se os passos largos, tão estugados quanto contrariados, me levam já aos 32, por esta altura devia estar casado há pelo menos quatro anos. O primeiro filho já cá a viver como os outros lhe dissessem para viver, e o segundo também já devia estar para chegar com as suas perninhas gordas com as quais iria também ele dar passos largos, estugados e contrariados. Devia levantar-me cedo como de costume, apertar o nó na garganta e depois de estar no trânsito como quem atravessa o Inferno, chegar ao escritório do costume, sentar-me na cadeira do costume, com os colegas e chefes do costume, e fazer o costume até sair à hora do costume e assim sucessivamente até o costume ser em cinzas ou na horizontal. Devia, pelo caminho do costume, passar mais tempo em casa, menos festas loucas e tão grandes – "porque já não tens idade para isso!" – menos incertezas e mais seguranças – "porque já tens mais que idade para isso!". Devia porque era certo, porque é assim que deve ser para a ordem das coisas se manter e o mundo não cair.

Mas enquanto os passos estugados – largos e contrariados – me levam aos 32 por outros caminhos que não tanto os do costume, quanto mais olho para o lado, para a frente e para trás, para os que tanto sabem da vida dos outros e que levam a vida do costume, menos estugados – largos e contrariados – os passos ficam e mais concretas e indeléveis as minhas pisadas se tornam.

Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:

- Derby: Como é o habitual, deve ser um jogo fraco em relação à qualidade futebolística, mas que ao menos seja emocionante. E que ganhe o Sporting.

- Vice on HBO: Excelente canal de YouTube com pequenos documentários muito interessantes.