Que sacrifícios estamos preparados para fazer? Não me digam que deixaram de comer queijo ou coisa que o valha porque é Quaresma e tempo disso. Sacrifício é outra coisa. As gerações anteriores tinham memória da guerra, racionavam os gastos, amealhavam para a velhice e corriam sem queixas atrás da vida. As novas gerações estão em desalento, inertes, presas a um mundo que tem tantas possibilidades que parece ter-se tornado desinteressante. Excesso de informação? Costumo dizer que é falta de carências.

A necessidade aguça o engenho e os mais novos não sentem necessidade nem parecem saber o que é o engenho. Vejo os miúdos, ainda longe do liceu, de telemóvel na mão. Vejo jovens saídos do liceu sem saberem, a trocar de cursos, a experimentar trabalhos vários e a queixarem-se.

Eu cresci com exemplos de trabalho e de sacrifício. Creio que em mais de trinta anos de trabalho tenho trabalhado e feito alguns sacrifícios. Tenho, sobretudo, tentado ter um discurso lúcido sobre o meu lugar no mundo, sobre a sobrevalorização do queixume, e sobre a inevitabilidade do trabalho.

Olho à minha volta e vejo jovens incapazes de conceber um plano de vida. Não sabem o que querem, sabem que querem viver bem. Estão dispostos a correr atrás da bola? A fazer sacrifícios? Não me parece. E tão pouco me parece que os façam em prol do Outro. Afinal, a Páscoa é sobre isso mesmo: sacrifício em prol do Outro. Não são ovos de chocolate nem cabritos assados ou promessas infantis de não fazer isto ou aquilo.

Deveria ser uma opção de vida, concreta, no dia-a-dia. A minha geração e a anterior trabalharam muito para pôr peixe na mesa. Não ensinámos os nossos filhos a pescar. É uma pena. Deveríamos ser pescadores. Todos nós.

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