Não valorizamos os jornalistas. Dificilmente alguém fora da profissão compreende que uma pessoa “é” jornalista, não “está” jornalista. Nunca será um trabalho das nove às cinco, será sempre uma forma de ver o mundo e de o relatar.
Podemos discutir os méritos e opções dos órgãos de comunicação social; até podemos considerar que o código deontológico não será conhecido pela maioria dos recém-licenciados em Jornalismo e Comunicação Social. Ser jornalista não é ter um estatuto especial e cinco minutos de fama, é algo bastante mais raro: ter a capacidade de ouvir as histórias dos outros e de procurar várias perspectivas. Uma fonte de informação não é suficiente. Nunca foi, nunca será. E, assim, ser-se jornalista é um trabalho a tempo inteiro e que obriga a uma enorme versatilidade. Não basta cumprir uma agenda política, opções individuais.
Não é fácil ser-se jornalista hoje em dia. Como no caso dos poetas e dos escritores, os regimes totalitários encarregam-se muito rapidamente de calar os jornalistas. São inúmeros, os exemplos dessa castração; dessa morte de liberdade e de contar a verdade. A verdade é que a democracia, sendo imensamente frágil, depende de uma boa comunicação social. Não para reciclar notícias, como por vezes sucede; tão-pouco para limitar perspectivas. Se os jornalistas tiverem condições de trabalho, a democracia retira benefício dessa liberdade e dos princípios éticos que devem reger a profissão.
Os jornalistas são também pessoas com vidas normais, têm família, pagam contas e impostos, precisam de estabilidade na sua carreira profissional, para que o resto se possa cumprir. No grupo Global Media os jornalistas estão em risco. Logo, as vidas das respectivas famílias.
Os trabalhadores do Diário de Notícias, do Jornal de Notícias, do jornal Jogo e da estação de rádio TSF marcaram uma greve para dia 10 de Janeiro. Têm salários e subsídios em atraso e uma administração que recusa a transparência das contas. O que está a acontecer não é apenas triste, é grave. O sindicato de jornalistas apela a uma greve generalizada, com a duração simbólica de uma hora, no mesmo dia. Caso não haja uma solução rápida para a questão da precaridade salarial, o futuro será negro. E, mais uma vez, a democracia ficará mais frágil. No ano em que comemoramos os 50 anos da Revolução, importa olhar para os jornalistas destes órgãos, e outros, e entender a sua importância. Sem jornalismo não teríamos chegado aqui.
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