Podemos dizer tudo, dependendo da maneira de dizer as coisas. As palavras e as 

ideias que escolhemos importam. Actualmente, vivemos um momento em que a gentileza parece uma forma de estar em vias de extinção. Não precisamos de concordar todos sobre a mesma matéria, o coração da democracia é alimentado por conceitos diferentes, é a sua essência. É na pluralidade de ideias e no seu debate que florescemos, que fazemos caminho. Podemos tudo, mas não podemos tudo de qualquer maneira. 

Democracia significa termos liberdade de expressão; podermos expressar o que pensamos e aceitar que haja quem concorde ou quem nem por isso. Não podemos é encher a boca com princípios e ética e democracia e termos uma postura radical: ou estão comigo, ou estão contra mim. 

Dito isto, acreditando piamente que é possível coexistir com quem discorda de certas ideias e convicções, também acredito que devemos aplicar as palavras com rigor e com elegância. Que a civilização e o civismo assentam nessa escolha de palavras. Não somos todos burros, corruptos, estúpidos, lentos ou outra coisa qualquer. Não podemos acusar impunemente A ou B de o serem. Mesmo que seja essa a realidade infeliz das redes sociais, não está certo, não é bom, não se deve desvalorizar. Tão-pouco se deve ignorar o que diz A ou B, se for ofensivo. 

Denunciar as más práticas, a falta de civismo, é outro princípio que a democracia permite. A pergunta talvez seja: por que carga de água é que há tanta necessidade de agressão? Não seria melhor debater no preceito saudável do civismo? O debate político vive confortavelmente nesta premissa de hostilidade. Chamo-lhe politiquice, não consigo chamar-lhe política. Para mim, política é outra coisa e, acreditando que todos os gestos são políticos, pasmo com a facilidade com que se fazem e dizem algumas coisas, neste abençoado mundo. Sim, no mundo, é algo que transcende o país. Mas que dá que pensar, isso dá.