A guerra traz oportunidades para negócios e situações sobre as quais não gostamos de falar. São temas difíceis, são temas que revelam a nossa impotência e, diria eu, a nossa profunda incompetência enquanto sociedade. Tráfico humano, tráfico de órgãos, tráfico sexual. Além da violência sexual sobre a qual temos lido na imprensa nacional e estrangeira, com muitas mulheres ucranianas a dar a cara, a dizer: fui violada. Muitas vezes, não por um homem, mas por vários.
A banalização da violência – vamos considerar que todos estes cenários são de violência atroz – é um caminho muito perigoso. Podemos ler e dizer, que horror, mas será que temos de ficar de braços cruzados nas nossas circunstâncias? A indignação, parece-me, não basta. É forçoso exigir medidas políticas concretas e eficazes para combater tudo aquilo que se passa na Ucrânia, da guerra ao desvio de crianças, à violência sobre mulheres.
Uma jornalista inglesa, do The Times, fez-se passar por uma mulher ucraniana à procura de refúgio e deparou-se com um cenário horrível: existem grupos nas redes sociais que se dedicam a ajudar aqueles que precisam de refúgio de uma guerra inimaginável na Europa e, dentro destes, existem, no Reino Unido, páginas que propõem, de forma muito direta, refúgio a troco de sexo. A jornalista recebeu mensagens com perguntas como: és solteira? E com afirmações como esta: Não vou oferecer ajuda a uma pessoa que não quer sexo. Os homens britânicos, neste caso, inscritos neste grupo querem sexo e estão prontos para oferecer refúgio a troco disso e tão somente isso. Não é só a brutalidade de tudo isto, a objectificação das mulheres e do seu propósito, é o desespero que ser tão público e de, mesmo assim, não fazermos nada. Se há uma coisa que a guerra na Ucrânia comprova é nossa pouca humanidade. O que se está a passar no país é indescritível e o que se passa fora de território ucraniano é igualmente condenável. O pior é ser às claras, nas redes sociais? O pior é existirem sociopatas, vou utilizar o termo sem qualquer conhecimento científico, inseridos na sociedade capazes de pensar que o desespero pode significar: sim, vou para a tua cama.
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