Em 2014, num andar por baixo da sede do Twitter, em São Francisco, na incubadora Runway, onde eu estava com o apoio da Portugal Ventures a procurar perceber como escalar a minha primeira startup iClio atualmente referenciada como JiTT.travel, conheci o Fred (aka Frederico) e o Tiago. Estava eu a terminar o meu menu "Adana Kebab" e ouço falar português ... dois empreendedores cheios de energia - que eu não conhecia do ecossistema de Portugal, sendo que era normal cruzar-me com outras startups lusitanas.

Rapidamente percebi que, apesar do seu percurso académico ter passado por Portugal (UBI - Universidade da Beira Interior), estes dois meninos eram oriundos de Moçambique. Um rol de questões e o meu baú de preconceitos dispararam dezenas de perguntas... há startups em Moçambique? Estes meus dois amigos acabavam de ganhar um prémio com a UX, a melhor startup moçambicana, e por isso estavam em Silicon Valley para aprender, conhecer outros empreendedores e eventualmente encontrar investidores. Mas, de 2014 a 2017, estes "meninos" (da minha idade) não pararam, acumularam projectos de sucesso e fazem corar de vergonha "meninos" como eu, pelo êxito alcançado, mas sobretudo capacidade de execução muito acima da média.

A minha falta de informação e ignorância derivam da minha atenção ao continente africano estar muitas vezes apenas alerta para as questões políticas, militares, sociais e não ter propriamente acompanhado o século XX ao nível da sua evolução económica. Este século XXI então tem sido fértil em novos desenvolvimentos e novas centralidades, sobretudo de ecossistemas tecnológicos do Cairo a Kigali, da Cidade do Cabo a Lagos, de Nairobi a Acra ou de Kampala a Dakar... e esta semana os olhos das startups africanas estão postos em Maputo, a capital de Moçambique. A SeedstarsWorld organizou dezenas de eventos locais em diferentes capitais africanas e selecionou 30 startups que lutam por investimento e reconhecimento em Maputo.

Voltando aos meus amigos Fred e Tiago. Ao longo dos anos mantivemos contacto, e fui alimentando a vontade de saber mais sobre o empreendedorismo em África, para aprender e partilhar experiências. E, por isso, quando o Fred me convidou para ir ao evento final do Seedstars Africa, não hesitei em aceitar. Além de ser a minha primeira viagem a África, depois de tantas voltas pelo mundo, levo uma enorme curiosidade em conhecer as ideias, processos, investimentos, ambições, sucessos - quero perceber in loco o que é "realidade" e "ficção".

A viagem será longa, por não ter conseguido voos directos, mas isso também é uma oportunidade. Antes de partir, além das preparações de viagem habituais, há que fazer a profilaxia médica recomendável, perceber que vou do Inverno para o Verão e algumas questões muito práticas como uma curiosidade que descobri num site com uma lista com os tipos de tomadas usados em África. Afinal continuamos ligados, apenas mudamos de continente.

A minha última nota antes de partir: não há portugueses no programa do evento, nem empresas patrocinadoras, nem media. Num país como o nosso, que alegadamente fervilha empreendedorismo, com tantos exemplos, boas práticas e sucessos, não parece haver qualquer interesse visível por uma geografia com a qual existem laços profundos. Estou certo (quero acreditar que sim) que a CPLP e outras organizações promovem relações entre empresas e empreendedores, mas naquela que é a principal summit de empreendedorismo, a língua portuguesa fica à porta e as empresas e empreendedores de Portugal... pelos vistos escassearão. Mas disso darei conta durante o evento.

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