O termo “Terceira Guerra Mundial” tem sido tão utilizado, ao longo da última década, para definir conflitos que na verdade não resultaram na Terceira Guerra Mundial, que a Quarta Guerra Mundial começa a perder a paciência com a sua predecessora. No fundo, está a atrasar o avanço da série. Contudo, talvez vivamos hoje o momento mais tenso entre os Estados Unidos e a Rússia desde o fim da Guerra Fria (que talvez nunca tenha acabado, como o Inverno deste ano), logo há razões para especular sobre um choque que conduza a um conflito global.

A Terceira Guerra Mundial não será anunciada no papel de jornais matutinos carregados por ardinas, mas através de push notifications (ou, como os nossos familiares razoavelmente homofóbicos dizem, “notificações de empurrão”). Hoje, não temos Roosevelt nem Churchill, temos Trump e May. Não querendo ser spoiler, mas esta versão da Guerra Mundial tem tudo para ser a pior das três, pelo menos para o lado ocidental. Entre Estaline e Putin, enfim, o bigode do primeiro assustava, mas o segundo monta ursos. É ela por ela.

Hoje, não teríamos espiões a viver no Estoril. Quer dizer, hoje em dia a espionagem é omnipresente e feita através das redes sociais, as agências não precisam de gastar dinheiro em hotéis da linha. O dispositivo onde o leitor está a ler este artigo sabe tudo sobre si, não é? O leitor adora bacalhau com natas! Vê? Não é cá preciso nenhum Dusko Popov.

As trincheiras deixaram de estar na moda na Primeira Guerra e ainda bem. Se as houvesse hoje em dia e a guerra chegasse a Lisboa, os soldados para além de ser obrigados a escavar um buraco com três metros de profundidade ainda largavam 1.100 euros de renda cada. E os carros blindados? Bem que podiam estar na terra de ninguém, que eram bloqueados pela EMEL. EMEL essa que deve ter mais efetivos do que o exército português em si. Portanto, teremos poucas hipóteses contra o inimigo, a não ser que ele não tenha trocos.

É que, em Portugal, a minha geração já não foi concebida para guerras. Ninguém se torna num general Eisenhower dos tempos modernos ao frequentar o Dia da Defesa Nacional. Para além disso, sinto que é difícil motivar-nos para abraçar o patriotismo que uma guerra exige. Talvez se pedirem ao Éder para discursar, não sei. Como não lhe deram o feriado, não sei se ele aceita. O problema é que, nos dias de hoje, quem consegue cativar mais pessoas através da oratória são os youtubers para putos. O Sirkazzio é, de facto, o novo Churchill. Pensem nisso.

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