Uma pandemia parou o mundo, parou o país e parou as empresas. As nossas atividades, do alojamento turístico e da restauração e bebidas, foram as que mais cedo fecharam, quer por imposição legal quer por falta de clientes, e as que mais penalizadas têm sido pelas sucessivas medidas implementadas com vista a conter a pandemia. O Turismo vive do movimento, do convívio, da partilha, dos afetos e tudo isso nos foi retirado de um momento para o outro, numa fase de crescimento do Turismo.

Como dizem os ditados, “não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe” e “depois da tempestade, vem a bonança”, mas o certo é que estamos ainda a viver uma fase de crescimento nos números da pandemia, e a ideia de que uma vacina eficaz iria resolver a pandemia de forma rápida está a dissipar-se, havendo já quem perspetive mais um ano de pandemia pela frente. 

No último inquérito realizado pela AHRESP, relativo ao mês de dezembro de 2020, sobre as perspetivas de recuperação da atividade económica, 43% das empresas de Restauração e Bebidas referiram que o setor só deverá começar a recuperar em 2022, sendo que 35% acredita que tal possa acontecer a partir do 2º semestre de 2021, com o início do Verão. Por seu turno, 38% das empresas de Alojamento Turístico acreditam que o setor só deverá começar a recuperar em 2022, e 37% indicam que será com o início do Verão.

Até ao início da tão desejada retoma, as empresas têm de conseguir manter as suas casas e as suas despesas, mesmo sem clientes e com regras restritivas apertadíssimas. Esta é uma tarefa muito difícil, senão mesmo impossível, uma vez que têm a sua faturação drasticamente afetada. 

Foi um ano a tentar “aguentar o barco”, mas que se traduziu em (infelizmente muitos) despedimentos, encerramentos e assim estamos a tornar-nos num país mais pobre, a todos os níveis.

Sabemos que não é só em Portugal que este impacto está a ser devastador. A própria Organização Mundial do Turismo e a ONU já apontaram para a imperiosa necessidade de se implementar mecanismos de apoio às empresas e de diálogo social que mitiguem todo este impacto, mas em Portugal os apoios continuam a não ser suficientes, quer na forma de apoio, quer nos seus montantes, quer na falta de agilidade com que (não) chegam às empresas. Por isso, com o passar de cada mês, são cada vez mais as empresas que são forçadas a declarar insolvência e encerrar, com todos os custos que daí advêm.

Também sabemos que os recursos são escassos, mas é também para nós uma evidência que, se não tomarmos agora (e já vão tarde) medidas absolutamente excecionais de apoio às empresas, fazendo tudo o que for necessário para que não encerrem e para que consigam manter os postos de trabalho, o preço a pagar num futuro próximo será bem mais elevado e poderá comprometer uma retoma, e a nossa economia, e o nosso país, têm de poder contar com a atividade do Turismo. 

Continuamos com a esperança de que seja uma questão de tempo, não muito longo, mas até lá temos uma realidade dura pela frente, e atualmente continuamos sujeitos a medidas muito restritivas, com os estabelecimentos de Restauração e Bebidas a poderem funcionar apenas em regime de take-away e delivery. Isto para não falar de atividades, como a animação noturna, que se encontra totalmente encerrada há quase um ano e do Alojamento Turístico sem um único cliente.

Como já afirmámos muitas vezes, não comentamos as medidas porque não detemos os dados e o conhecimento científico suficiente para que as possamos refutar. Seja como for, há medidas cuja racionalidade não podemos deixar de questionar, como é o caso de não se poder vender qualquer tipo de bebida em regime de take-away, até mesmo águas e sumos. Ora, a venda de bebidas propriamente dita não representa qualquer risco acrescido, pelo que o que se quer prevenir é o consumo de produtos à porta do estabelecimento ou nas suas imediações, e esta é uma responsabilidade que cabe aos clientes. Proibindo a venda, apenas se está a agravar a já difícil situação dos estabelecimentos. 

Paralelamente as regras não são absolutamente claras, levando a vários entendimentos, o que tem dificultado a gestão dos negócios, que acresce as constantes alterações a que estamos sujeitos a cada quinzena, ou mesmo a cada semana.

Todas estas questões podem parecer pequenas e insignificantes para quem nos lê. Mas imagine o que seria se os seus horários ou as suas funções mudassem constantemente, literalmente do dia para a noite, e de forma muito pouco clara. E imagine que no dia seguinte à mudança teria a polícia a fiscalizar essas regras que ainda não foram muito bem compreendidas. Não é fácil. E a maior parte das vezes não é justo para estas empresas que, desde o início, foram as mais cumpridoras e promotoras de boas práticas de segurança e higiene. 

Mas para a AHRESP, o que é importante é que as empresas do Turismo nacional consigam manter a resiliência. Infelizmente, e ao contrário do surgimento da pandemia, o regresso ao “normal” não acontecerá de um dia para o outro, e as empresas vão necessitar de muito apoio para além dela. Mas  uma coisa é certa: esta situação há de ter um fim e o país poderá contar com o Turismo e com as suas empresas para a recuperação, assim as ajudem a sobreviver até lá. 


Ana Jacinto é secretária geral da AHRESP - Associação da hotelaria, restauração e similares de Portugal.