Quando comecei a trabalhar nos jornais estive um ano sem receber um tostão. Nada de especial, era uma estagiária, mesmo que tivesse responsabilidades acima da designação, como por exemplo a responsabilidade de fechar o jornal na gráfica. Outros tempos em que a tecnologia era mesmo à mão e o x-ato o nosso melhor amigo.
O meu primeiro ordenado era inferior ao ordenado do estafeta interno do jornal. Era o meu primeiro salário, portanto não me ofendi.
Ao fim de uns meses, uma jornalista veterana disse-me: “Vai exigir um ordenado maior, se não o fizeres não te respeitam e irão sempre pagar mais a qualquer homem, mesmo que estagiário".
Eu, então tímida, não fiz nada e, um mês depois, entrou um estagiário do sexo oposto, alguém que nunca tinha posto os pés numa redação e precisava de aprender tudo. Vinha de boas famílias, era homem, não tinha concorrido ao lugar submetendo-se a provas e entrevista (que foi o meu caso), portanto teve logo direito a ordenado. E o ordenado desta criatura era igual ao meu? Claro que não, era superior ao meu e superior ao do estafeta.
A discriminação salarial faz parte da minha vida. Independentemente do lugar que ocupo ou do que faço há sempre um homem que ganha mais.
Hoje o meu exemplo é outro, sou CEO de uma agência de publicidade e de conteúdos e o meu ordenado é igual ao do meu sócio minoritário, não se compara em nada aos ordenados dos CEO’s da vida em agências pequenas, médias ou grandes. Se eu vivo bem com isto? Vivo. É uma opção. Mas neste caso a opção é minha e não me coloca um degrau abaixo de ninguém. Faz uma grande diferença.
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