Para começar, os seguranças espancam. É impressão minha ou isto, até antes de moral e civilizacionalmente, está errado do ponto de vista linguístico? Seguranças, segurança, seguro… Ou estou a ver mal? Eu quando penso em segurança – não sei se estou enganado – não penso num grupo de gajos que medem 3 por 3 a espancar violentamente dois putos, inclusive com saltos a pés para a cabeça de um eles, como quem dá aquele último salto no Jogo da Macaca. É que isto não me faz propriamente sentir seguro. Se os putos, mesmo que estivessem a roubar, levam com aquilo tudo, eu mesmo que faça algo menor à frente deles – dizer “o racismo é estúpido”, por exemplo – já deve dar para levar 2 ou 3 socos no maxilar. E se há coisa para a a qual tenho talento é para levar nos cornos.

Acho graça a quem diz “bem, mas eles até mereceram um bocadinho…” ou “puseram-se a jeito…”. Faz-me lembrar o Gustavo Santos quando disse, após o massacre no Charlie Hebdo, que era contra violência mas que, como eles tinham gozado com a fé dos outros, habilitaram-se…. Está bem, então. Roubas um telemóvel, ganhas um espancamento. Fazes umas graças, ganhas uma bala para guardar no coração.

Portanto, é fácil inferir que todas as vítimas de assédio sexual se andam a pôr a jeito. As vítimas do Weinstein, do Hoffman, do Spacey, de tantos. Curiosamente, o Cláudio Ramos também veio dizer que o miúdo de 14 anos – para cima de quem o Kevin Spacey saltou quando este estava deitado numa cama – se tinha habilitado porque tinha ido àquela festa e que há miúdos de 14 anos muito mais vividos do que o próprio Cláudio. É por estas e por outras que as mulheres não deviam usar mini-saia. Se se soubessem vestir, não havia tantas violações. Se miúdos não quisessem ir a festas, não eram assediados sexualmente por actores com mais 40 anos que eles. Se putos na noite não tentassem roubar ninguém, não viam as suas cabeças a ser esmagadas contra o alcatrão. E vá lá, vá lá. Fosse na Arábia Saudita e, depois de todo aquele tratamento, ainda lhes tinham cortado as mãos. E BEM! – diria muita gente, pelos vistos.

Agora, se a violência (roubo) se paga com violência (espancamento), como é que agora se paga o espancamento? Com quase morte? E depois como é que se paga a quase morte? Morte? E depois morte dos familiares? Vamos por aí fora. Lindíssimo.

Enfim, não se ponham a jeito, não é verdade? É a conclusão, tendo em conta que vivemos na selva e é olho por olho, dente por dente. Se a dúvida sobre estar em 2017, ou não, me assola constantemente, é tanto pela violência como por se arranjar sempre maneira de conseguir culpar as vítimas. E de um lado e do outro, é gente que, de certeza, valoriza a vida humana alheia ainda menos do que se valoriza um “claro que sou inocente!” vindo de um José Sócrates.

Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:

Bordalo II:  Inaugura-se hoje a primeira grande exposição do Bordalo II. De certeza que já viram algures por Lisboa o trabalho dele em forma de animais coloridos, a partir de aquilo que nós todos achamos ser lixo. Faz um trabalho incrível e vale a pena lá passar.

DJ Vibe: Fãs da música eletrónica, logo à noite o Vibe vai comemorar os 35 (!) anos de carreira e vai mandar a casa abaixo. Não é bem o meu género musical favorito, mas um evento destes vai ser bom de certeza.

Stranger Things 2: Falta-me um episódio para acabar de ver esta segunda temporada. Mas estou com medo de o ver pelo que vou ter de esperar depois para ver a terceira.