O fogo que arde e se vê

Alexandra Antunes
Alexandra Antunes

É inevitável: altas temperaturas são sinónimo de incêndios, a cada verão. Os alertas repetem-se, ano após ano. As queimas e queimadas são proibidas, os terrenos têm de ser limpos. Portugal tem serras e montes, terrenos repletos de árvores. Precisamos delas. E não as queremos ver destruídas — nem às povoações que se podem aconchegar ao redor e pelo meio delas.

Por outro lado, o factor humano. O fogo pode vir de várias formas, pela mão de alguém ou por causas naturais. Mas são sempre pessoas que o combatem. Umas pelo próprio pé e como podem para proteger o que é seu, outros que se voluntariam para salvar o que é preciso salvar e outros que fazem destes combates profissão. Seja como for, são pessoas que se colocam em perigo para proteger tudo e todos de outro perigo.

Destes indivíduos, uns chegam pelo chão e outros pelo ar. Todos querem ajudar a apagar o fogo que arde e se vê — aqui o amor que canta o poeta, aquele fogo que arde sem se ver, vai também no peito, pela coragem. E que falta faz quando as chamas se levantam ameaçadoras.

Este fim de semana tem sido marcado, mais uma vez, pelos incêndios. Ontem de manhã chegava a notícia de um incêndio dividido com o país vizinho. Meios terrestres e aéreos portugueses e espanhóis começaram a combater o fogo nas margens da barragem do Alto Lindoso, no Parque Nacional da Peneda-Gerês.

As habituais aeronaves recolhiam água para lançar lá do alto, para que cá em baixo o fogo decidisse acalmar. Depois de uma dessas manobras — uma operação de ‘scooping’ —, um avião Canadair despenhou-se. Lá dentro seguiam dois homens, um de cada país onde as chamas lavram.

Não tardou a que se soubesse o desfecho: o piloto português, de 65 anos, não resistiu à queda; o segundo piloto, um espanhol de 39 anos, sofreu ferimentos graves e já se soube no dia de hoje que se encontra "estabilizado e fora de perigo".

Contudo, foram levantadas dúvidas acerca do socorro dado às vítimas, por parte do INEM. Ter-se-à chegado no tempo devido? Na sua edição de hoje, o Jornal de Notícias referiu que, "à falta de uma aeronave adaptada ao socorro aéreo em zonas montanhosas, falha apontada à Proteção Civil há vários anos, o héli do INEM só chegou ao local às 14:28 horas, quando a queda do avião se deu às 11:19 horas, e ainda teve de pousar a 300 metros dos operacionais que estavam num terreno que já fica do lado espanhol do Gerês".

O INEM veio já esclarecer a situação e dizer que o primeiro helicóptero mobilizado para o socorro aos pilotos do Canadair chegou ao local cerca de uma hora depois do alerta — e não três. "Recebemos às 11:25 o alerta para o acidente. Às 12:28, chegou ao local o primeiro helicóptero mobilizado para o acidente. Aterrou a 300 metros do acidente porque não foi possível aterrar mais perto. Às 12:43, a equipa do INEM, que fez o resto do percurso a pé, estava junto da vítima a prestar-lhe socorro", disse à agência Lusa fonte oficial.

No local, verificou-se que o piloto português estava "em paragem cardiorrespiratória", tendo a equipa de socorro feito manobras de suporte básico de vida "sem conseguir reverter a paragem". Quanto ao piloto espanhol, este foi encaminhado para o Hospital de Braga, onde se encontra internado.

Passam já mais de 24 horas desde o início do incêndio no Gerês. Hoje de manhã, os meios aéreos não foram acionados para ajudar no combate devido à nebulosidade que atingia a zona. Depois, o tempo ajudou e já voltaram a cruzar os céus. Os homens continuam no terreno, a fazer o que tem de ser feito.

No fim, a pergunta que fica é só uma e repete-se, a par com os alertas, a cada vez que vemos chamas a estalarem algures: até quando vão ser estas as notícias do nosso verão?

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