Na disputa entre mudança e continuidade no Benfica, venceu a cultura democrática

António Moura dos Santos
António Moura dos Santos

No momento em que este texto é publicado, ainda estão a ser contados os votos, um a um, para determinar quem será o presidente do Sport Lisboa e Benfica: Rui Costa, atual dirigente dos encarnados, encabeçando a lista A, ou Francisco Benitez, a alternativa que lidera a Lista B.

A razão para a demora, contudo, é a melhor possível para o clube: seja qual for a lista vencedora, o clube já ganhou, pois ultrapassou o recorde de votações num ato eleitoral. Quando as urnas fecharam, às 22:00, tinham sido depositados 40.115 votos, um valor que largamente ultrapassa os 38.102 votantes de 2020.

E é aí que a história deste dia começa. Foi há sensivelmente um ano que o Benfica foi a votos, com três candidaturas em disputa: a de Luís Filipe Vieira, que ocupava o cargo desde 2003, a do ex-dirigente Rui Gomes da Silva e a do empresário João Noronha Lopes.

Esse ato eleitoral, pleno de tensões devido aos casos de Luís Filipe Vieira junto da justiça portuguesa, viu ainda assim o presidente encarnado singrar-se vencedor com 65% dos votos, com uma vantagem bem menos folgada do que em ocasiões prévias face a uma oposição cada vez mais vocal.

Todavia, muito mudou desde então:

  • Detido no âmbito da operação Cartão Vermelho, Vieira foi forçado a abandonar a direção, sucedendo-lhe um dos seus vice-presidentes, Rui Costa;
  • O ex-jogador, querendo ver-se legitimado junto dos sócios, convocou eleições para os órgãos sociais;
  • Todavia, nem Noronha Lopes nem Rui Gomes da Silva vieram a jogo desta vez: foi Francisco Benitez a corporizar a alternativa, ele que até se tinha apresentado na corrida o ano passado mas optando por unir-se a Noronha Lopes.
  • A nova corrida eleitoral introduziu uma variante há muito postergada no clube: a organização de um debate eleitoral entre os dois candidatos.

Tivemos, então, para hoje, um confronto entre dois arquétipos:

  • Rui Costa, a “figura” do clube, o “Delfim” de Vieira que estava a ser preparado para a sucessão, alguém que conhece há muito os meandros do Benfica e da sua gestão desportiva; mas que, por isso mesmo, tem sido acossado por supostamente ter sido conivente com a gestão de Luís Filipe Vieira e suas alegadas ilegalidades;
  • Francisco Benitez, o empresário sem ligação aos órgãos de gestão, com “ficha limpa” e reputação impoluta, mas também acusado de ter falta de craveira e experiência para um cargo desta importância.

(Se, porventura, quiser refrescar a memória quanto a todo este processo, nada como consultar este detalhado artigo de antevisão)

Entre a mudança protagonizada por Francisco Benitez e a continuidade de Rui Costa, os sócios foram instados a fazer uma escolha, e desde cedo se percebeu que muitos responderam à chamada — o facto da possibilidade de o voto ocorrer por todo o continente, através das casas do Benfica de norte a sul, ou por voto online para os Açores, Madeira e associados do clube residentes no estrangeiro, ajudou.

Hoje, as personalidades do Benfica ou conhecidos adeptos foram somando-se junto ao pavilhão B do Estádio da Luz para exercer o seu direito de voto: de Ricardo Araújo Pereira, que lançou farpas à direção, ao próprio Luís Filipe Vieira, cuja presença se fez sentir, garantindo não ter prejudicado o Benfica para proveito próprio e considerando que um novo ato eleitoral é sinal de "democracia a mais no clube" — o que, diga-se, gerou protestos da candidatura de Benitez. Às declarações de Vieira respondeu indiretamente Manuel Vilarinho, também ex-presidente, aconselhando todos os antigos dirigentes e figuras ligadas ao clube a não falarem, pois "só agudizam a crise".

O que irá sair deste ato? Manuel Damásio disse que espera que estas eleições criem mais “união” no Benfica, tal como Noronha Lopes, que desejou que o clube saia reforçado deste ato eleitoral. Já Rui Gomes da Silva não se revelou assim tão esperançoso: "Se querem a minha previsão, daqui a ano e meio estaremos cá outra vez com o Benfica numa grande crise. Espero não ter razão como tive há um ano”.

Será? Os resultados das próximas horas — e as consequências que daí advierem — o dirão.

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