Sem pandemia, não havia recandidatura

Abílio dos Reis
Abílio dos Reis

Há pouco mais de dois anos, mais concretamente em 17 de maio de 2020, o tempo estava parecido ao de hoje: soalheiro. Sem incêndios e fogos, certamente não tão quente, claro, mas ainda assim a convidar um passeio à beira-mar e na praia, em que os bravos e corajosos até ponderaram utilizar como calçado o saudoso e arejado chinelo. A razão para recordar este dia é simples: foi nessa data que o Presidente da República voltou a um convívio mais próximo com os seus cidadãos na Ericeira e tocou no assunto Presidenciais 2021.

Na altura, Portugal desconfinava timidamente e com muitas regras. Mas Marcelo quis mostrar que era preciso arrebitar a economia — com segurança. Foi por isso que andou pelo mercado e a ziguezaguear na calçada das ruelas, com cuidados que agora já parecem esquecidos, e sem dar beijinhos nem abraços. E foi durante esse regresso à vida que sempre o caracterizou, a meias com o povo, que aos jornalistas reiterou "não estar a pensar nas eleições".

  • "Os portugueses neste momento têm grandes preocupações, e a última preocupação é saber como é que é a campanha eleitoral", justificou Marcelo Rebelo de Sousa, rematando que ainda não tinha decidido se ia ou não ser candidato. Afinal, estávamos a alguns meses das eleições, marcadas para janeiro de 2021.

Ora, volvidos 789 dias desde esse passeio pela Ericeira, temos a certeza de três coisas sobre as incertezas de então do Chefe de Estado: não só se candidatou, como ganhou as eleições para um segundo mandato, e em 6 de junho, dia em que abriu a época balnear, lá estava o Presidente de calção de banho a cumprir a promessa feita.

Esta introdução serve de mote apenas para puxar a declaração de Marcelo Rebelo de Sousa feita a durante o podcast "Deixar o Mundo Melhor", hoje revelado, admitindo a Francisco Pinto Balsemão que não tinha intenções de se recandidatar. "Se não tem havido a pandemia, eu não me candidatava". Em nome da renovação de mandatos, frisou, estava preparado para dar o lugar a outra pessoa.

  • Esta ideia, contudo, já tinha sido partilhada ao SAPO24 o ano passado. Em entrevista, o Chefe de Estado sublinhou que sem o aparecimento do vírus que parou o mundo, "não sentia o dever moral" de se recandidatar.

Durante a a participação no podcast, que durou quase duas horas, Marcelo Rebelo de Sousa tocou na esfera pessoal e política.

  • Sobre a primeira, explicou que já tinha um traço solitário, e que a imagem de um homem "só no meio da multidão" corresponde à sua vida: "Foi um bocadinho a minha vida sempre e é a minha vida em Belém cada vez mais".
  • Sobre a segunda, entre outros tópicos, confidenciou que conhece António Costa "desde os 19 anos" e que confia nas suas palavras: se o primeiro-ministro disse que ia ficar em funções até ao fim, é porque vai ficar.

Quanto ao futuro? O Presidente revela não estar preocupado e afirmou ter já vários planos para quando isso terminar o mandato em 2026 — ano que também coincide com o fim da legislatura do atual Governo, ou seja, com Costa na liderança.

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