Varíola-dos-macacos, um ponto de situação

Tomás Albino Gomes
Tomás Albino Gomes

Quais são os países com mais casos?

Portugal é o nono país do mundo com mais casos acumulados de varíola-dos-macacos (monkeypox), informou hoje a Organização Mundial de Saúde (OMS), alertando que os contágios reportados aumentaram 48% na última semana a nível global.

“Até 22 de julho, os dez países que registaram o maior número acumulado de casos a nível mundial são a Espanha (3.125), os Estados Unidos da América (2.316), a Alemanha (2.268), o Reino Unido (2.137), a França (1.453), os Países Baixos (712), o Canadá (615), o Brasil (592), Portugal (588) e a Itália (374)”, refere a atualização epidemiológica da OMS sobre a Monkeypox.

De acordo com a organização, estes dez países representam, no seu conjunto, 89% dos casos reportados globalmente até à data.

O contexto europeu e mundial

Numa declaração hoje divulgada, o diretor da OMS para a Europa adiantou que, desde 13 de maio, cerca de 12 mil casos prováveis ou confirmados foram reportados em países e territórios europeus, 8% dos quais resultaram em hospitalização, não se tendo registado qualquer morte em consequência dessas infeções.

A nível mundial, o número de novos casos reportados semanalmente aumentou 48% na semana de 18 a 24 de julho em comparação com a semana anterior, totalizando 16.016 infeções pelo vírus Monkeypox em 75 países e cinco mortes este ano.

Segundo Hans Kluge, depois do OMS ter declarado o surto como uma emergência de saúde pública internacional, os países, quer tenham detetado casos ou não, devem “agora agir com urgência, aproveitando todas as oportunidades para antecipar, controlar e impedir a propagação de um vírus” do qual a própria organização reconhece que ainda tem muito para aprender.

“Embora reconheçamos incertezas sobre como este surto irá evoluir, temos de responder à epidemiologia que temos diante de nós, focando-nos no modo de transmissão mais dominante – contacto pele-a-pele durante encontros sexuais – e nos grupos com maior risco de infeção”, adiantou o responsável europeu da OMS.

A declaração de emergência de saúde pública

A OMS declarou no sábado o surto de Monkeypox como uma emergência de saúde pública de preocupação internacional, o nível mais alto de alerta, quando estão notificados mais de 16 mil casos em 75 países.

“Temos um surto que se está a espalhar rapidamente à volta do mundo, do qual sabemos muito pouco e que cumpre os critérios dos regulamentos internacionais de saúde”, adiantou o diretor-geral da OMS em conferência de imprensa, após a reunião do Comité de Emergência para avaliar a evolução da doença no mundo.

Perante isso, Tedros Adhanom Ghebreyesus anunciou que “o surto global de Monkeypox representa uma emergência de saúde pública de preocupação internacional”, estabelecendo recomendações para quatro grupos de países.

O primeiro desses grupos inclui os países que ainda não reportaram casos de Monkeypox ou que não têm registo de contágios há mais de 21 dias, adiantou o diretor-geral da OMS, ao avançar que o segundo grupo abrange os países com casos recentes importados e com transmissão entre humanos.

O terceiro grupo de países são os que apresentam transmissão do vírus entre animais e humanos e o quarto inclui os países com capacidade de produção de testes, vacinas e tratamentos, explicou Tedros Adhanom Ghebreyesus.

O diretor-geral explicou que a sua decisão de declarar a emergência de saúde pública de preocupação internacional baseou-se nas informações que mostram que o vírus se espalhou rapidamente a nível global, mesmo em países sem registo prévio de infeções, assim como nas “muitas incógnitas” face aos dados ainda insuficientes sobre a Monkeypox.

“Sei que este não foi um processo fácil ou simples e que existem pontos de vista divergentes entre os membros”, referiu Tedros Adhanom Ghebreyesus, ao recordar que, atualmente, o surto concentra-se sobretudo em “homens que fazem sexo com homens, especialmente aqueles com múltiplos parceiros sexuais”.

Isso significa que se trata de um surto que “pode ser travado com as estratégias certas nos grupos certo”, salientou o responsável da OMS, alertando que o “estigma e discriminação podem ser tão perigosos como qualquer vírus”.

As medidas aplicadas em Portugal

No mesmo dia, a Direção-Geral da Saúde (DGS) afirmou que Portugal já adotou as medidas fundamentais para responder à Monkeypox.

“Não implica muito mais do que aquilo que está a ser feito. Todas as medidas têm sido tomadas, mesmo sem essa declaração” de emergência de saúde pública de preocupação internacional decidida hoje pela Organização Mundial da Saúde (OMS), disse à Lusa a porta-voz da DGS para o surto em Portugal.

Apesar de Portugal ser um dos países do mundo mais afetados pela Monkeypox, em termos do número de casos diagnosticados, “não se pode dizer que estamos num crescimento exponencial nem nada que se pareça”, adiantou a médica Margarida Tavares.

“O que temos assistido é um número constante semanal e até com uma tendência ligeiramente decrescente”, destacou Margarida Tavares, que é também a diretora do Programa Nacional para as Infeções Sexualmente Transmissíveis e Infeção por VIH da DGS.

Vacinar as pessoas pode ser a solução?

A porta-voz da DGS para a varíola-dos-macacos afirmou no sábado que “pode fazer sentido” vacinar grupos da população antes da exposição ao vírus, uma possibilidade que depende do aumento de doses disponíveis.

“Prevejo que a muito breve prazo isso possa vir a fazer sentido e seja discutido internacionalmente e seja implementado em vários países. Precisámos, para ter mais tranquilidade a tomar esta medida, de mais vacinas”, disse à Lusa a especialista da DGS Margarida Tavares.

Segundo afirmou, neste momento, com o número de vacinas contra a Monkeypox disponíveis, Portugal não tem “uma alternativa muito diferente” do que a atual de vacinar os contactos próximos dos casos de infeção confirmados, um processo que se iniciou em 16 de julho.

Portugal recebeu 2.700 doses de vacina contra a infeção humana por vírus Monkeypox, doadas pela Comissão Europeia, através da HERA (Autoridade de Preparação e Resposta Sanitária).

Margarida Tavares, que é diretora do Programa Nacional para as Infeções Sexualmente Transmissíveis e Infeção por VIH da DGS, manifestou-se esperançada que, em breve, o país possa ter mais vacinas, o que permitiria equacionar a vacinação de alguns grupos populacionais de pré-exposição ao vírus VMPX.

“Não está, neste momento, disponível grande número de vacinas para comprar” a nível global, referiu a médica.

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