Bloco de Esquerda afirma-se a "esquerda frontal". Como foi a convenção?

  • Um novo rosto para o BE

Mariana Mortágua é o novo rosto de um ciclo de continuidade no Bloco de Esquerda, que saiu hoje da XIII Convenção, assumindo o combate ao “tormento da maioria absoluta” do PS e com apelos a uma “esquerda frontal”.

A votação das moções de orientação comprovou a vitória expressiva de Mortágua como coordenadora e representa não só a continuidade, mas o reforço da linha oficial do partido na Mesa Nacional: Conseguiu 67 dos 80 mandatos no órgão máximo do BE entre convenções, enquanto a moção adversária, dos críticos internos, apenas 13.

Há dois anos, a linha crítica, que integra vários elementos da "Convergência" e da UDP, tinha eleito 17 representantes e a direção 54.

  • A estratégia para os próximos dois anos

A XIII Convenção Nacional do BE aprovou a estratégia para os próximos dois anos, com a próxima direção comprometida em recuperar o peso eleitoral perdido nas eleições de 2022, através do combate aos “efeitos da maioria absoluta” do Governo PS que, aliás, fomentam a extrema-direita, segundo Fernando Rosas.

No discurso com que encerrou a Convenção, Mariana Mortágua levou mais longe esta ideia, ao afirmar o combate ao “tormento” da maioria absoluta do PS, que considerou “causa de embaraço nacional” e que não dá resposta à vida dos portugueses, abrindo espaço ao medo e ao ressentimento.

A nova líder dirigiu-se diretamente aos eleitores do PS que, considerou, “sabem melhor do que ninguém como, em pouco mais de um ano, se tornou evidente que a maioria absoluta é um tormento de degradação e instabilidade”.

Para "resgatar o país deste jogo vicioso", a nova líder bloquista só vê um caminho: "é preciso uma esquerda frontal". "Quero dizê-lo com muita clareza. A esquerda que desistir de ser exigente para aceitar a chantagem do medo não serve o país. Não somos biombos de sala, não somos cravos de lapela", avisou.

O BE, disse, empenhar-se-á na "luta popular" e dar mais força aos movimentos sociais, procurando, à esquerda, unidade.

Em termos eleitorais, a nova líder fixou o objetivo de voltar a eleger representação no parlamento da região da Madeira, em setembro ou outubro, e ser a terceira força política nas europeias de 2024.

  • "A vida boa", o novo "slogan"

No final do seu discurso, a nova líder do BE explicou o que quer dizer "a vida boa" que inaugurou como novo "slogan" do BE e pelo qual foi criticada pelos adversários na convenção. Para Mortágua, as condições da "vida boa" são serviços públicos de saúde que não sejam "meros remendos". Na saúde, é ter novas valências nos cuidados primáticos e garantir acesso a cuidados paliativos.

A "vida boa", disse, é ter respostas sociais à infância e aos mais velhos e trabalhadores com contratos de trabalho estáveis, com direito a férias pagas e subsídio de doença, combatendo a precariedade, bem como salários decentes.

  • Apoio e discórdia (e a guerra)

Ao longo da convenção, Mariana Mortágua teve demonstrações de apoio por parte de numerosos militantes, entre os quais os fundadores do partido: “Somos a tua infantaria”, disse Fernando Rosas no primeiro dia.

Na Convenção bloquista, os pontos de discórdia entre a moção da direção e a moção adversária foram a posição face à guerra na Ucrânia e sobre as relações com o PS, com os representantes da moção E (de Pedro Soares) a defender que é preciso “desentranhar o geringoncismo”.

Sobre as posições do BE face à NATO e à Ucrânia, o ex-militar Mário Tomé (ex-UDP), que não conseguiu a eleição para a Mesa Nacional, foi uma das principais vozes críticas, a par de Manuela Tavares.

Os dirigentes Jorge Costa, José Gusmão, José Manuel Pureza e Pedro Filipe Soares defenderam a justeza da linha da direção: "Perguntam-nos agora o que é que fomos fazer a Kiev e eu digo-vos: fomos levar a um povo que está a ser morto à bomba a nossa solidariedade. A bomba é a bomba e a solidariedade é a solidariedade, uma mata a outra protege", declarou Pureza, numa das intervenções mais aplaudidas no Pavilhão do Casal Vistoso.

  • A despedida de Catarina Martins

No discurso de despedida, Catarina Martins, que ouviu sucessivos agradecimentos durante a convenção, defendeu que o partido “fez o que tinha a fazer e voltaria” a votar contra o Orçamento do Estado para 2022, o que contribuiu para a queda do Governo, e disse que voltaria a fazer o mesmo por coerência.

Catarina Martins foi aplaudida de pé e agradeceu a todos os que estiveram envolvidos no processo de organização da XIII Convenção. “Sei bem que a camaradagem, a convicção, o debate franco, a luta ombro a ombro não se comemoram. Partilham-se. Mas permitam-me que hoje vos diga o quão grata estou pelo privilégio de ter seguido convosco no caminho destes últimos 11 anos e pelo que mais virá”, afirmou.

Recordando outros tempos, Catarina Martins olhou para a altura da 'geringonça', afirmando que “ajudámos a salvar o país da direita e não nos submetemos nunca à ideia peregrina de que bastaria um 'acordo de cavalheiros' para um compromisso de medidas: tem que haver honra e fidelidade aos acordos na política, mas o povo tem o direito de saber o que vai ser feito, quando e como, e isso é um acordo transparente para toda a gente conhecer.”

Catarina Martins garantiu que o partido é “unitário contra o sectarismo” e promete que “nunca deixará de o ser”. “Queremos toda a força da esquerda junta, porque não é demais para enfrentar a casta oligárquica que manda em Portugal.”, afirmou.

*Com Lusa

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